Nas duas últimas semanas fui ao Clube de Ténis das Caldas da Rainha e ao Bom Sucesso Resort assistir às finais dos dois Óbidos Ladies Open.
São torneios internacionais femininos, cada um com 25 mil dólares em prémios monetários, contam para o ranking mundial, mas foram afetados pela revolução que a Federação Internacional de Ténis (ITF) operou nos circuitos secundários, masculino e feminino, desde 1 de janeiro.
É impossível explicar aqui as complexas alterações, mas um dos objetivos da ITF foi dignificar o estatuto de tenista profissional. Estima-se que houvesse 14 mil profissionais e deseja-se limitá-los a menos de mil em cada género.
É verdade que quem não ande pelo top-200 mundial normalmente gasta mais dinheiro (inscrições, viagens alojamentos, alimentação, material desportivo, equipa técnica) do que aufere em prémios e patrocínios. A maioria sobrevive na precariedade. Os milionários, como Roger Federer, são uma elite.
É certo que estão, por isso, mais sujeitos a serem aliciados por apostas ilícitas e têm sido dezenas os casos de corrupção detetados pela unidade criada para combater esses atos criminosos.
No entanto, como referiu um antigo top-10 mundial sérvio, Janko Tipsarevic, são raras as modalidades profissionalizadas que pretendem reduzir o número de praticantes de alto rendimento. É contranatura e a pressão do ‘elevador social’ das bases é fundamental para melhorar a qualidade dos executantes de topo.
Estou convencido de que a subida de nível a que assistimos no curto prazo nestes torneios do circuito secundário poderá desaparecer a longo prazo se milhares de jovens talentosos preferirem outras modalidades.
Francisco Semedo, licenciado em Turismo e a fazer um mestrado em Ciências da Comunicação, elaborou um estudo para o site Raquetc, no qual comparou os cinco torneios masculinos da ITF realizados no Algarve em fevereiro e março de 2018 com as mesmas provas no período homólogo em 2019, já sob as novas restrições. Os dados são esmagadores.
«Em 2018 conseguia-se albergar um máximo de 618 jogadores em singulares. (…) Em 2019 este número reduziu-se para 250, uma descida de 59,65%. Os jogadores portugueses passaram de 121 para 62, uma queda de 48,77%».
Portugal recebeu em 2018 mais de 40 destes torneios. Imagine-se o que o país perde em 2019 só em receitas diretas e indiretas. O cenário é igual no mundo inteiro. Há menos torneios e este circuito secundário está em perigo. Este será seguramente um dos temas ‘quentes’ da Assembleia Geral eleitoral da ITF que este ano irá realizar-se em Lisboa.