O ministro da Defesa britânico, Gavin Williamson, foi despedido devido a uma fuga de informação confidencial, relativa a um projeto da Huawei, uma empresa chinesa acusada pelos Estados Unidos de ser uma fachada para espionagem da parte de Pequim. Williamson terá revelado ao jornal The Daily Telegraph os planos para permitir que o gigante de telecomunicações chinês participasse na construção da rede 5G do Reino Unido, apesar dos alegados riscos de segurança. É mais um abalo para a credibilidade do Governo britânico, que já estava em cheque com o Brexit.
A decisão de demitir o ministro da Defesa terá partido da primeira-ministra, Theresa May, que afirmou num comunicado ter “perdido a confiança” em Williamson, após a fuga de informação, algo que diz ser “um assunto extremamente sério”, além de ser uma “profunda deceção”.
A fuga de informação ocorreu após uma reunião do Conselho Nacional de Inteligência, algo que levou a uma investigação, encontrando “provas convincentes” da culpa de Williamson, levando May a concluir que “nenhuma outra versão dos eventos, que explique esta fuga, foi identificada”. Fontes da BBC acrescentaram que o ministro da Defesa terá de facto reunido com Steven Swinford, o editor de política do The Daily Telegraph, mas salientam que isso não prova a sua culpa.
A primeira-ministra lembrou que é “vital” para um Governo que os membros do Conselho Nacional de Segurança possam ter “discussões francas e detalhadas”, sem receio que estas sejam “discutidas ou divulgadas”. May terá oferecido ao ministro da Defesa a possibilidade de se demitir, algo que este recusou, dizendo que seria equivalente a uma admissão de culpa.
Williamson culpou o redator da investigação, o conselheiro de Segurança Nacional, Mark Sedwillo, pelo resultado desta, falando em “vendetta” e assegurando que seria “de certeza” ilibado num inquérito policial. Contudo, quando deputados da oposição exigiram que a polícia ficasse a cargo do caso – que poderia resultar numa pesada pena de prisão – o ex-ministro da Defesa considerou-o desnecessário, mas mostrou-se disposto a cooperar. O braço direito da primeira-ministra, David Lidington, já garantiu que o assunto está encerrado e não será feita queixa-crime.
A fuga de informação já afetou as relações entre o Reino Unido e os seus aliados norte-americanos, que ameaçam limitar a cooperação com as secretas de países que não proíbam componentes da Huawei nas sua telecomunicações. A administração do Presidente dos EUA, Donald Trump, acusa a empresa chinesa de colocar backdoors nos seus produtos – ou seja, falhas propositadas que permitem acesso à informação por terceiros. A China nega todas as alegações, garantindo que as acusações de Trump não são mais que uma cortina de fumo, para beneficiar injustamente as empresas norte-americanas e acabar com a competição chinesa.
Enquanto a Austrália e a Nova Zelândia já acataram as ordens dos EUA, a notícia do The Daily Telegraph mostrou que Reino Unido tentou agradar tanto a Washington como a Pequim, limitando peças da empresa chinesa nas partes mais sensíveis das suas novas redes, permitindo-as em partes menos estruturais, como antenas.
No que toca à construção da nova geração de telecomunicações em Portugal, o primeiro-ministro António Costa recusou as exigências dos EUA, não aceitando que “a pretexto de segurança se introduzam mecanismos de protecionismo” contra investimentos chineses. Costa garante que não há “nenhuma razão para excluir a Huawei do acesso ao mercado”.