As mortes por violência doméstica dispararam em relação a 2018 e se o início do ano já tinha sido marcado pela preocupação em torno desta realidade, este semana houve mais um caso com um desfecho trágico. Uma mulher de 37 anos foi encontrada morta em casa, em Vila Real de Santo António, Faro, com sinais de estrangulamento e perfurações no corpo, suspeitando-se de que o crime tenha sido cometido pelo ex-marido da vítima.Fonte da PSP, em declarações ao jornal i, revelou que a vítima terá sido estrangulada até à morte.
O crime terá ocorrido em casa da mulher. Depois de agredir mortalmente a ex-companheira, o suspeito terá voltado para sua casa, em Monte Gordo.Sabendo do sucedido, familiares e amigos da vítima foram atrás do suspeito com armas brancas, escreve o Correio da Manhã. Nessa altura, as forças policiais já estavam à procura do suspeito, que acabou por ser detido em Monte Gordo pela GNR.De acordo com o mesmo jornal, o corpo da vítima terá sido encontrado pela sua filha mais velha, que regressava a casa depois da escola. Após encontrar a mãe, a filha ainda terá pedido ajuda, mas não havia nada a fazer.
Historial complicado
O historial da relação do casal já era complicado. O divórcio era recente, mas quando o casal morava junto em Monte Gordo já havia indícios de violência doméstica, adianta o mesmo jornal. Fonte da PSP indicou que até aqui não tinham conhecimento de queixas e «não existiam antecedentes relacionados com violência doméstica». Contudo, as suspeitas rapidamente se voltaram para o ex-marido da vítima. De acordo com o irmão da mesma, citado pelo CM, desde que se separou que as ameaças constantes e que o suspeito se deslocava diariamente ao prédio onde a ex-mulher morava, ameaçando-a de morte.
Depois de ter sido detido, o suspeito terá confirmado os contactos com a vítima. No entanto, assegurou que naquele dia não esteve com ela. A tese do ex-marido da vítima levantou suspeitas, tendo este sido levado para as instalações da Polícia Judiciária (PJ) – que tem agora em mãos o caso e será responsável por investigar se se efetivamente se trata de um crime de violência doméstica.
Os números continuam a subir e o ano já é negro. Se em 2018 se registou um total de 28 mortes por violência doméstica, 2019 está a caminhar para que esse número seja ultrapassado. Desde janeiro que já morreram 17 pessoas – das quais 15 eram mulheres, juntando-se-lhes um homem e um bebé que tinha apenas dois anos.
Falta de prevenção?
O tema foi discutido, em março, no Parlamento, tendo sido aprovado um pacote de medidas de prevenção e combate à violência doméstica. Entre as medidas aprovadas pelo Executivo está a criação de um grupo de trabalho para a analisar a possibilidade de vir a ser integrado um juiz da área da família no coletivo de magistrados que venham a julgar casos de violência doméstica, responsabilidade parental e maus tratos, o alargamento dos gabinetes de apoio às vítimas «nos departamentos de investigação e ação penal» e a reestruturação do Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica, para garantir o atendimento das vítimas 24h por dia.
O primeiro-ministro, em março, já tinha admitido que a violência doméstica é um «desafio coletivo de toda a sociedade» e que é preciso fazer algo para a combater. António Costa disse ainda que nos dias de hoje já não se pode «aceitar o velho ditado que diz que entre marido e mulher não se mete a colher. (…) A violência diz-nos respeito a todos, e todos temos o dever de intervir, de não calar, de denunciar, de levar a sério as denúncias, de investigar e de prosseguir essa investigação até à fase da condenação», alertou.
Dois homicídios na mesma semana
Dois dias antes do homicídio em Vila Real de Santo António, uma mulher de 40 anos foi assassinada por um colega de trabalho, no que tudo aponta ter sido um crime motivado por uma fixação amorosa. O homem atingiu mortalmente a mulher na cabeça com uma arma de fogo. Terá tentado procurar o marido da vítima, sem sucesso. De seguida tentou suicidar-se com dois tiros, tendo ficado ferido com gravidade.
A PSP foi chamada ao local devido a agressões num parque de estacionamento, tendo encontrado a vítima e o atirador dentro do carro, estacionado junto às instalações do banco Millenium BCP, no Tagus Park, em Oeiras, onde ambos trabalhavam.
A vítima tinha dois filhos menores, um com quatro e outro com sete anos.De acordo com os dados do Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR no ano passado registaram-se no país 28 femicídios, um aumento de 40% face aos dois anos anteriores. Na maioria dos casos (18) os agressores eram ex-maridos, companheiros ou pessoas com quem as vítimas tinham tido relações de intimidade.