Muitas pessoas defendem que não se deve pegar nos bebés ao colo quando estão a chorar porque ganham ‘manha’. É uma advertência recorrente que ouvi vezes sem conta quando os meus filhos eram pequenos. Uma das vezes até me disseram que por ser psicóloga esperavam que soubesse que não devia fazê-lo. Estava a habituá-lo mal e depois ia ‘colher os frutos’. Fiquei chocada, boquiaberta. Um bebé de dias não pode ser pegado ao colo quando chora? E eu devia saber isso? Que mais coisas bizarras deveria eu ter aprendido que entendi totalmente ao contrário? Se um recém-nascido não deve ser acalmado, contido e aconchegado no nosso colo apertado e quentinho quando passa para a imensidão do mundo cá de fora, então quando lhe devemos pegar? Respondi-lhe que além de mãe, era precisamente também por ser psicóloga, que sabia que devia fazê-lo.
Não é raro também ouvir dizer que estamos a estragar os bebés quando lhes fazemos coisas impensáveis como mimar ou deixá-lo adormecer nos nossos braços. Como pode o amor e o carinho estragar um bebé quando é isso que o faz viver? O que é um bebé estragado afinal? É um bebé que chora quando está insatisfeito, que procura ajuda com o corpo irrequieto e o choro, que gosta de ser tocado e apaparicado, que pede ajuda para adormecer quando precisa? Bom, se é isso prefiro um bebé estragado a um bebé arranjado e infeliz. Há bebés que nascem mais desorganizados do que outros, com alguma dificuldade em se adaptarem a este mundo enorme e frio e por isso com maior necessidade de conforto. O meu filho mais novo, por exemplo, nas primeiras semanas quando acordava à noite não conseguia voltar a adormecer no berço. Nunca fui adepta de pôr os meus filhos a dormir na minha cama, mas este precisava mesmo do nosso calor, de ouvir a nossa respiração, o bater do nosso coração e mal ali caía adormecia como um anjo. Hoje tem três meses e dorme lindamente no berço. Nunca mais voltou à nossa cama.
Algumas pessoas veem os bebés quase como uma ameaça, que ao mínimo deslize se tornam reivindicativos e começam a tomar conta de tudo e de todos. Não que isso seja totalmente falso, muitas casas vivem mesmo em função deles, mas há uma grande diferença entre não acalmar nos braços um bebé que chora, não o mimar, ou habituá-lo mal ao longo do tempo.
Os bebés precisam tanto do toque e do embalo como de alimento. Depois da Segunda Guerra Mundial muitos bebés sucumbiram em orfanatos apesar de terem aparentemente as suas necessidades básicas satisfeitas. Percebeu-se posteriormente que esta fatalidade se devia à falta de afeto, de amor, de atenção e de toque. Bebés em instituições em que alguém se dedicava a eles, os mantinha próximo do corpo, lhes pegava ao colo e embalava tinham um fim diferente.
Naturalmente quem diz para não pegar nos bebés ao colo quando choram e fala de manhas também não defende um extremo destes, mas a verdade é que é sobretudo o toque e o afeto, o responder aos apelos do bebé, acompanhá-lo nesta chegada ao mundo de forma empática e sintónica, que possibilitam uma vinculação sólida e segura, que perdurará para sempre e será essencial ao seu desenvolvimento em todos os aspetos.
E por isso, amanhã que se celebra o dia da mãe, deixemo-nos de manhas e deixemo-las pegar nos bebés quando e como quiserem, livres de preconceitos e de receios, com todo o amor que têm para lhes dar e que eles tanto querem receber.