Investigadores descobriram nas redes sociais cerca de 6700 perfis promotores de desinformação, alegadamente ligadas à Rússia, que terão bombeado conteúdos suficientes para alcançar 241 milhões de utilizadores – ou seja, à volta de metade da população da União Europeia. Estas contas tanto são geridas por humanos – que utilizam software para comunicar através de múltiplas contas ao mesmo tempo – como por bots – programas que reconhecem sequências específicas de texto e interagem com outros utilizadores.
Este relatório – produzido pela empresa norte-americana SafeGuard Cyber – analisou a atividade de contas suspeitas num período de 1 a 10 de março, levantando sérios receios que a decisão dos eleitores europeus possa ser influênciada por atores estrangeiros quando forem às urnas, a 23 de maio. O objetivo será que o resultado favoreça a política externa russa. “Eles criaram narrativas especificamente sobre as eleições europeias”, disse ao Politico Otávio Freire, co-fundador da SafeGuard Cyber
A empresa que produziu o estudo, a SafeGuard Cyber, explica no seu site que as fake news o objetivo desta desinformação é direcionada a países membros da União Europeia para “explorar fissuras sociais e assuntos controversos em tempo real”. A SafeGuard Cyber assegura que os seus resultados mostram um ataque “direcionado, sofisticado e eficiente”.
Os investigadores notam que todos os conteúdos divulgados são localmente criados, de modo a construir uma narrativa adaptada a cada Estado membro. Um grande alvo será o Presidente francês, Emmanuel Macron, que tem defendido uma maior integração europeia. O relatório assinala que a atividade das contas suspeitas aumentou 79% durante todo o dia de 4 de março, em que Macron publicou um muito divulgado texto pedindo uma “renascença europeia” – que terá sido imediatamente ridicularizada e descreditada por boa parte dos perfis supostamente ligados à Rússia.
Já quanto à maior economia europeia, o foco dos perfis alegadamente ligados à Rússia estará a política migratória, com apelos ao ódio contra refugiados e incentivos ao crescimento do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que se transformou na maior força de oposição ao Governo da chanceler Angela Merkel.
Ainda em 2017 foi noticiado que um deputado da AfD, Markus Frohnmaier, seria um aliado próximo do Presidente russo, Vladimir Putin. Com a eleição de Frohnmaier a Rússia ficou com “o seu próprio deputado no Parlamento alemão, sobre controlo total”, como escreveu um funcionário russo de alto nível, numa carta dirigida a Putin e revelada por uma investigação conjunta do Der Spiegel, ZDF, La Repubblica e a BBC. Outra carta assegurava que apoio financeiro à campanha do deputado do AfD significaria maior pressão para o fim das sanções à Rússia e da “interferência interferência europeia na política doméstica russa”.