Se João Sousa foi o herói do Millennium Estoril Open (MEO) do ano passado, João Domingues é o anti-herói deste ano.
Sousa faz-nos sonhar com grandes feitos, nos oitavos de final de singulares do Open dos Estados Unidos e nas meias-finais de pares do Open da Austrália.
Mas enquanto o vimaranense de 30 anos anda pelo circuito principal, no ATP Tour e no Grand Slam, João Domingues passa discretamente pelos Challengers, a segunda divisão do ténis. Só de vez em quando tenta a sorte entre os maiores.
Sousa, o ‘Conquistador’, é um guerreiro. Esbraceja e profere impropérios, mas é um homem educado fora do court, cria muitas amizades no circuito e percebe a sua importância para o desenvolvimento da modalidade, sendo o melhor tenista português de sempre.
No MEO, provoca filas de miúdos e graúdos desejosos de um autógrafo ou de uma selfie, quis conhecer um jovem com limitações físicas que o idolatra, e nos tempos livres já visitou doentes em hospitais, viajou a um modesto clube de ténis em Cabo Verde, foi recebido por Pizzi no Estádio da Luz e recentemente foi convidado a discursar um dia no American Club.
O outro João, o Domingues, é cinco anos mais novo, vem de Oliveira de Azeméis, estudou Arquitetura no Porto e reside em Lisboa, treinando no CIF, no Restelo, com os treinadores da Escola de Ténis Manuel de Sousa, o português João Antunes e o brasileiro André Podalka.
Sousa tem 1,85 metros, a mesma altura de Roger Federer – estampa de campeão. Domingues fica-se pelos 1,78 metros, passa despercebido, é tímido e esconde uma inteligência aguda.
A semana passada Sousa ficou-se pelos oitavos de final e foi Domingues a tornar-se no segundo português a atingir os quartos de final em cinco anos de MEO.
Um feito. Na história de torneios portugueses da ‘primeira divisão do ténis mundial’ (Open de Portugal em 1983, Maia Open em 1994 e 1995, Masters Cup 2000, Estoril Open/Portugal Open entre 1990 e 2014 e agora MEO desde 2015) esta foi apenas a 11.ª vez que um português chegou tão longe.
Uma vez mais, Domingues, o anti-herói, fê-lo discretamente, vencendo dois encontros na fase de qualificação, mas depois, foi com estrondo que superou dois australianos: Alex De Minaur (o seu primeiro sucesso sobre um top-30) e John Millman (o carrasco de Federer no US Open).
Domingues vai regressar ao top-200 e até Roland Garros será acompanhado por Larri Passos, o ex-treinador de Guga Kuerten (n.º 1 mundial e tricampeão de Roland Garros), que já o desafiou a passar temporadas nos Estados Unidos. Vale a pena os fãs começarem a olhar para ele. Temos homem.