Maio teve sempre para mim um significado especial. É o mês das flores, um mês cheio de luz, o mês das mães. Ainda no passado domingo se comemorou o Dia da Mãe, pelo que este meu artigo é dedicado às mães – não só àquelas que estão connosco mas também às que já nos deixaram, prestando-lhes hoje a minha homenagem.
Com quase 97 anos, a minha ainda está entre nós, embora num estado de extrema debilidade e deterioração das funções cognitivas, numa dependência total do apoio de terceiros. Exigente, rigorosa e dedicada professora, fazia questão de ler os meus textos antes de os enviar para o jornal e não se cansava de me corrigir quando detetava alguma irregularidade. Era uma alegria ouvi-la chamar-me a atenção, como quando examinava um aluno: «Menino, ai estas regras gramaticais…». Estas recordações trazem-me muita saudade.
Ao falar nas mães, começo pelas jovens que fazem tudo para lá chegar e muitas vezes não conseguem por circunstâncias várias, exigindo-se especial atenção por parte do Estado. Sendo Portugal um país com uma baixa natalidade, fará todo o sentido que o investimento nesta área seja mais eficaz do que até agora. Há falta de resposta dos serviços estatais, os tratamentos são complicados, muito demorados e dispendiosos. No setor privado nota-se também essa falha, pelo que é urgente repensar a situação e analisá-la com critério e rigor. Por vezes pedem-me ajuda neste campo da infertilidade, mas as opções disponíveis são ainda escassas e os resultados nem sempre satisfatórios.
Depois vem o problema mais comum nos nossos dias que se coloca aos jovens casais: conciliar o trabalho com a vida familiar. Presentemente, quem tem um emprego está obrigado a defendê-lo conforme pode – e daí a ginástica que é preciso fazer tantas vezes com os horários de entrada no trabalho e o deixar os filhos nas creches ou nas escolas, já sem falar nas condições económicas necessárias para manter esse equilíbrio. Em minha opinião, o Estado deve ter em conta essas dificuldades e aliviar os casais, concedendo-lhes benefícios fiscais e outros incentivos para defesa e proteção da família.
E, já agora, seria bom que se dessem mais ouvidos às mulheres que querem interromper a gravidez, tentando perceber as razões por que o fazem. A avaliar pelos poucos casos que me chegam, visto eu ser objetor de consciência, a resposta anda sempre à volta do mesmo, ou seja, por não haver condições financeiras e nunca por rejeitarem o desafio de serem mães.
O papel da mãe na família é insubstituível e o seu valor na sociedade e no mundo inquestionável. Citando Tolstoi: «Mãe! Nos teus braços a esperança e a salvação do mundo», o que mostra inequivocamente toda a dimensão e grandeza dessa condição humana.
O caso que venho partilhar é elucidativo e dispensa comentários. Sofia é uma mãe extremosa na casa dos cinquenta anos, que luta desde há algum tempo contra uma depressão. Confiando sempre no seu médico assistente, nunca deixou de comparecer às consultas, nem de seguir à risca todas as minhas recomendações.
Tem um ar triste e melancólico, veste de escuro e é difícil arrancar-lhe um sorriso. O seu aspeto exterior é o reflexo do que lhe vai na alma. Quando me procurou ultimamente, no final da consulta, já prestes a deixar o gabinete, disse-me que tinha qualquer coisa para me oferecer, para ela de grande significado e de valor incalculável. Sem saber do que se tratava, nunca imaginando que tal viesse a acontecer, fiquei perplexo quando ela tirou da carteira, devidamente embrulhada, uma medalha com a imagem da Mãe do Céu. «É para si. Era da minha mãe. Fale com Ela quando se sentir triste, preocupado, aflito, que Ela virá ao seu encontro». Ouvindo aquelas palavras, pensei que estava na presença de uma devota fervorosa. Mas mais surpreendido fiquei ainda quando ela me confessou: «Não sou crente, mas ela ouve-nos a todos da mesma maneira. Chame-A sempre que precisar». Fiquei sem palavras. Por fim, com dificuldade, lá consegui responder: «Assim farei».
Guardei só para mim este testemunho arrepiante, principalmente por vir de uma pessoa que se diz não crente e não o contei a ninguém. Ficou gravado cá dentro, até chegar a altura certa de o revelar: em Maio, o mês da Mãe!
(Por se tratar de uma história real, o nome da doente está trocado)