Quando a manutenção não é levada a sério

São vários os problemas registados nos últimos anos nas pontes e nos viadutos em Portugal. Manutenção continua a não ser suficiente.

Por elas passam diariamente milhões de portugueses, mas a sua manutenção nem sempre é uma prioridade. Desde as principais pontes aos viadutos mais pequenos são diversos os exemplos em que as infraestruturas são levadas ao limite.

A Ponte 25 de Abril, em Lisboa, é um dos casos que nos últimos tempos mais deram que falar. Em 2018, a Visão publicou uma notícia em que denunciava os problemas existentes na ponte que liga Lisboa à margem sul do Tejo. Em causa estava um relatório, de fevereiro de 2018, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). No documento referia-se a existência de graves fissuras na estrutura da ponte, assim como de fissuras que aumentavam exponencialmente tanto em tamanho como em número de dia para dia. Segundo o LNEC, os problemas na Ponte 25 de Abril já estavam referenciados desde o ano de 2015 mas, como não foram tomadas medidas no sentido de reverter estas situações, o estado da ponte foi-se agravando.

Depois de o caso ter sido tornado público, a Infraestruturas de Portugal (IP), em conferência de imprensa, afastou qualquer tipo de perigo iminente e adiantou que, se esse caso se verificasse, a “ponte estaria fechada”. Mas após a autorização do Ministério das Finanças, a IP anunciou o lançamento de um concurso público para obras de requalificação e reparação da ponte, no valor de 18 milhões de euros.

No Parlamento, partidos como o CDS–PP, PCP, PSD e BE quiseram ouvir o responsável do LNEC para que fossem dados mais esclarecimentos acerca da gravidade dos danos na Ponte 25 de Abril, para que qualquer tipo de alarme existente na altura fosse eliminado. As obras de conservação na ponte arrancaram em dezembro do ano passado e a estimativa é que os trabalhos possam durar pelo menos até ao ano de 2020.

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No Porto, a Ponte de D. Maria Pia também parece esquecida

A ponte ferroviária de D. Maria Pia, construída em 1877, que liga as duas margens do rio Douro – o Porto a Vila Nova de Gaia –, está encerrada desde 1991 por não reunir condições de segurança necessárias para a passagem de locomotivas modernizadas e foi substituída pela Ponte de São João.

A Ponte de D. Maria Pia é um dos casos que parecem ter ficado esquecidos no tempo. Classificada como monumento nacional, ao longo dos anos foram feitas várias propostas para a sua reabilitação desde que encerrou. De todas a propostas realizadas, a que aparece como mais provável é a criação de uma ecopista no tabuleiro da ponte; ainda assim, até aos dias de hoje, nenhum projeto avançou. Desde o encerramento que a ponte só sofreu uma intervenção, feita em 2009.

 

O viaduto de Alcântara também representa um problema sem fim à vista

Os problemas não são só nas grandes pontes: desde a sua construção, na década de 70, que o viaduto de Alcântara é considerado provisório. O tabuleiro metálico sofreu uma intervenção corria o ano de 2005, quando foram feitas obras de reforço. Também nesse ano, os veículos pesados viram a sua circulação interdita – apesar de tal proibição não ser respeitada.

No ano de 2017, a circulação no viaduto de Alcântara foi interrompida devido ao desvio de um pilar que segura o tabuleiro. Na sequência desse desvio e de forma a reparar os danos provocados, a Câmara Municipal de Lisboa ordenou o encerramento do viaduto durante a noite no mês de março. As obras foram concluídas já no mês de maio seguinte e a circulação de automóveis restabelecida; ainda assim, todos os veículos pesados continuam sem poder passar no tabuleiro.

 

Entre-os-Rios parece não ter servido de exemplo

A 4 de março de 2001, o país assistiu a uma das maiores tragédias alguma vez vistas em Portugal. Um dos pilares da ponte de Entre-os-Rios ruiu, o que levou à queda da estrutura da ponte e dos veículos que circulavam no tabuleiro, e à morte de 59 pessoas.

O acidente levou mesmo à demissão de Jorge Coelho, ministro do Equipamento Social à época. Das 59 vítimas mortais, apenas 20 corpos foram recuperados das águas.

Este ano, a tragédia fez 18 anos, mas continuam a ser muitos os casos em que o país parece não ter aprendido a lição.