Caso aconteceu há dois anos e não tem fim à vista

Como a PJ passa da investigação do desaparecimento das armas para a investigação do reaparecimento do material.

A história dura há cerca de dois anos e parece não ter fim à vista. Para perceber tudo o que está em causa, é preciso não esquecer o início: As armas desapareceram dos paióis de Tancos em junho de 2017 e foram encontradas em outubro do mesmo ano a cerca de 20 quilómetros. 

Da investigação ao desaparecimento das armas, a PJ passa, mais tarde, a investigar o seu reaparecimento. Segundo a versão inicial da PJM, o piquete de serviço recebeu uma chamada anónima a dar conta do material roubado. Mais tarde, veio a descobrir-se que a recuperação das armas teria sido encenada. 

O caso não pára de somar arguidos e, em setembro do ano passado, o ex-diretor da PJM, coronel Luís Vieira e o ex-fuzileiro, João Paulino, foram presos. O tenente coronel Luís Sequeira, Chefe de secção de Informações e Investigação criminal da GNR de Loulé, foi o último a ser constituído arguido.

O caso agitou a Defesa Nacional e o ex-ministro Azeredo Lopes acabou por se demitir.

A partir daqui, começaram as audições nas comissões parlamentares. O ex-ministro da Defesa não foi excepção e, no início deste mês, confirmou no Parlamento que recebeu um telefonema a 18 de outubro de 2017 da então Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, em que esta se mostrava incomodada com o facto de a Polícia Judiciária Militar (PJM) não estar a respeitar a sua decisão de entregar a investigação do furto de Tancos à PJ civil. Ou seja, Azeredo Lopes confirmou que teve conhecimento de que havia uma investigação em curso por parte da PJM um ano antes de ter saído.

A chamada de Marques Vidal aconteceu no mesmo dia em que apareceu o material de Tancos na Chamusca e numa altura em que a PGR não conseguia chegar à fala com o diretor-geral da PJM.

Ainda na mesma audição, foi revelado que o Ministério da Defesa Nacional se ofereceu para ajudar a fazer o comunicado relativo ao aparecimento das armas. O antigo governante salientou, porém, que «o comunicado não foi condicionado pelo Ministério da Defesa».

O envolvimento do Ministério da Defesa no caso do furto das armas já tinha sido apontado – também em comissão de inquértio – por Vasco Brazão, major que coordenou a equipa da PJM, no início de abril. Vasco Brazão confirmou que «a encenação da recuperação do material furtado foi toda planeada com o conhecimento da hierarquia». O major foi mais longe e garantiu: «Não me calarei, contarei tudo o que sei, doa a quem doer». 

Vasco Brazão confirmou que foi dada ordem para que fosse feita uma investigação paralela à da Polícia Judiciária e adiantou que o então diretor-geral daquela polícia, coronel Luís Vieira, se responsabilizou por tudo. 

No fundo, a entrega das armas foi combinada entre a PJM e um informador, que se disponibilizou a dar a localização do material, com uma condição: a Polícia Judiciária (PJ) não poderia estar envolvida no processo, até porque esse informador era quem tinha roubado o material. 

Ainda na sequência de todo o processo, em outubro de 2018, Rovisto Duarte, Chefe do Estado-Maior do Exército apresentou a sua demissão – dois dias depois da tomada de posso do novo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho. 

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