Os 18 municípios que estão a ser investigados pelo Ministério Público pagaram, nos últimos cinco anos, pelo menos 15,8 milhões de euros à Transdev e às várias empresas que fazem parte do grupo em Portugal ou que com ele têm relação. Numa primeira busca no site Base.Gov, os resultados totais que surgem para a empresa Transdev não passam das duas centenas, havendo apenas alguns destes relativos a serviços prestados às autarquias, mas uma investigação do i passou a pente fino todos os registos das empresas detidas pela Transdev em Portugal: Transdev Mobilidade, Auto Aviação Aveirense, Caima Transportes, ETAC, Minho Bus, Rodoviária da Beira Litoral, Rodoviária da Beira Interior, Rodoviária d’Entre Douro e Minho, Transdev Douro, Transdev Interior, Transdev Norte e Transdev Portugal.
Entre as autarquias que mais se destacam estão Barcelos – cujo presidente é um dos principais arguidos da Operação Teia, que envolve o ex-presidente de Santo Tirso, Joaquim Couto -, Lamego, Oliveira de Azeméis e Guarda.
Barcelos é campeã de adjudicações Desde 2014, a autarquia de Barcelos, atualmente liderada pelo socialista Miguel Costa Gomes, adjudicou a diversas empresas do grupo Transdev serviços que perfazem 7,3 milhões de euros – em causa estão sobretudo ajustes diretos para transporte escolar.
De seguida surge a autarquia de Oliveira de Azeméis, com adjudicações de transporte coletivo que ascendem a 2,8 milhões de euros. O terceiro município com mais adjudicações é Lamego – no total, esta autarquia gastou em cinco anos 2,7 milhões em serviços comprados às diversas empresas do grupo francês.
A Guarda é o município que se segue, com mais de 770 mil euros em adjudicações. Nesta autarquia, os investigadores estão a passar a pente fino não só a gestão do atual presidente, Carlos Alberto Monteiro (PSD), como a do anterior, Álvaro Amaro, que deixou a presidência da autarquia por ter sido escolhido por Rui Rio para o Parlamento Europeu.
Na análise feita pelo i não surgiram registos de adjudicações realizadas pelas autarquias de Soure, Fundão e Moimenta da Beira a estas empresas da Transdev, apesar de estarem sob suspeita. Apesar disso, basta uma breve consulta ao site da Transdev para perceber que há relações com o município de Moimenta da Beira, dado que foi a empresa que dotou “o município de uma solução económica de transporte”.
Os restantes municípios cujas adjudicações o i analisou são a Sertã, com 453 mil euros; Pinhel, com 423 mil euros; Cinfães, com 226 mil euros; Belmonte, com 144 mil euros; Águeda, com 113 mil euros; Oliveira do Bairro, com 419 mil euros; Armamar, com 84 mil euros; Oleiros, com perto de 75 mil euros; Almeida, igualmente com 75 mil euros; e Tarouca, com 40 mil euros.
Na maioria dos casos foram feitos ajustes diretos, e não abertos concursos públicos ou consultas ao mercado.
Se se tiverem em conta os últimos dez anos, o valor total das adjudicações destes municípios ao grupo Transdev quase duplica, face aos 15,8 milhões dos últimos quatro anos, fixando-se em mais de 28 milhões.
Empresa com volume de negócios de 96,6 milhões As consultas feitas pelo i excluíram empresas participadas, como a Renex e a Rede Nacional de Expressos. Segundo a apresentação formal da Transdev no seu site, a empresa está “presente em todo o território de Portugal continental, com especial incidência nas regiões Norte e Centro”.
“A Transdev assume-se como um dos principais players do setor rodoviário de passageiros no país. A atividade da empresa incide nos setores rodoviário e fluvial, detendo 11 empresas, bem como participações na Internorte, Intercentro, Rede Nacional de Expressos, Renex e Rodoviária do Tejo”, refere ainda a empresa, que diz contar com “cerca de 1900 colaboradores e uma frota de mais de 1500 viaturas”.
No site é ainda possível ler que “o volume de negócios atingiu os 96,6 milhões de euros em 2017, só em Portugal”.