Uma onda de indignação está a marcar a cidade da Praia, em Cabo Verde. Face à abundância de cães nas ruas da capital, a autarquia local começou a capturar e abater por eletrocussão os animais que não são resgatados, método que tem provocado inúmeras queixas por parte de associações de defesa dos animais, tanto a nível local como internacional.
"Temos a consciência plena de que não é a abater os cães que se resolve o problema. Mas há bairros onde as campanhas de castração não chegam e o número de cães é tão elevado que, perante as queixas de moradores, a câmara tem de determinar a sua captura", afirmou à Agência Lusa António Lopes da Silva, vereador da Cultura, Ambiente e Saneamento da Câmara Municipal da Praia, frisando que a captura só acontece nos bairros sem campanhas de esterilização (a maioria) e que até há bem pouco tempo o método de abate dos cães era o envenenamento por estricnina.
O que a autarquia faz é legal e está previsto no Código de Posturas Municipais, aprovado em 2014, garante o ministro. Leitura diferente têm as associações que defendem o bem-estar animal, como o movimento Comunidade Responsável, que está a promover uma petição pelo fim do abate dos cães na Praia: na sexta-feira contava com perto de 700 assinaturas. “É de uma crueldade fora do comum. Os animais pagam o preço da negligência humana”, disse à Lusa Maria Zsuzsanna Fortes, voluntária do movimento, revelando que os cães são capturados como se fossem lixo e colocados precisamente em lixeiras ou carrinhas de caixa aberta. Há mesmo relatos de moradores indignados que nos últimos dias têm conseguido libertar alguns dos animais que já se encontravam no interior dos veículos.
"A eletrocussão é internacionalmente proibida por convenções internacionais, dos quais Cabo Verde faz parte”, recorda o Movimento Comunidade Responsável no texto que acompanha a petição contra a morte dos animais na Praia. "A eletrocussão é proibida por causar um extremo sofrimento aos animais. No ânus dos animais, muitas vezes totalmente molhados e colocados dentro de uma caixa metálica, é introduzido um cabo com 380 volts. As veias do cão rebentam, os músculos convulsionam-se e até os ossos se partem por causa de tantas convulsões”, pode ler-se no documento, onde o movimento acusa a autarquia de não respeitar um protocolo assinado entre as duas partes em março de 2018 e que “estabelece um método eficaz para a gestão ética da população canina, sem matar os animais ou causar-lhes qualquer sofrimento, providenciando cuidados e educando a população para a posse responsável do cão”.
Em novembro passado, a Sociedade Humana Internacional escreveu uma carta ao presidente da Câmara Municipal da Praia a alertar para a publicidade negativa que estava a receber de Cabo Verde, apelando ao Presidente da República do país para terminar com a "chacina de cães" na cidade. António Lopes da Silva garante que a autarquia está a trabalhar na castração dos animais com as associações “interessadas em trabalhar” nesta área, mas reconhece que “não chega” a todos.