Crise. Drone norte-americano abatido pelo Irão

O Irão acusa Washington de violar o seu espaço aéreo e diz estar pronto para a guerra. Os Estados Unidos dizem que o drone foi abatido em águas internacionais, numa escalada sem fim à vista.

“Sempre demos e sempre daremos uma resposta dura a intrusos”, prometeu esta quarta-feira o líder do conselho de segurança iraniano, Ali Shamkhani, que descreveu o espaço aéreo do do Irão como uma “linha vermelha”. E quinta-feira de madrugada a ameaça foi cumprida, com o abate de um drone norte-americano no estreito de Ormuz pela Guarda Revolucionária iraniana. O major general Hossein Salami, líder deste corpo, disse que Teerão “não quer guerra com nenhum país”, mas está “completamente preparado para a guerra” – que parece cada vez mais próxima. O mesmo recado foi dado por Washington esta semana, com o envio de mais mil tropas para a região, em resposta ao “comportamento hostil de forças iranianas”.

Como sempre nestes conflitos, os relatos sobre o assunto são díspares. A Guarda Revolucionária assegura que o drone foi abatido por mísseis terra-ar Khordad-3, no espaço aéreo do Irão, perto de Kuhmobarak, na província de Hormozgan. Já as forças armadas dos Estados Unidos insistem que a aeronave estava a sobrevoar águas internacionais sobre o estreito de Ormuz. Ambos os lados afirmaram que se tratava de um RQ-4 Global Hawk, uma aeronave não tripulada de vigilância, altamente sofisticada, “envolvida em recolha de informação e espionagem”, segundo a Guarda Revolucionária. 

Estes drones estão regulamente ativos na região, em tarefas como vigiar comunicações e atividades militares, bem como verificar o estado das defesas aéreas iranianas.

Não será a primeira vez que um drone norte-americano está na mira do Irão. Ainda a semana passada Washington acusou Teerão de tentar abater um drone armado MQ-9 Reaper, numa tentativa de impedir a vigilância de um dos navios-petroleiros atacados no golfo de Omã, o Kokuka Corageous. 

Note-se que o ataque aos petroleiros foi um momento crucial da escalada das tensões do Golfo, tendo sido imputado ao Irão pela administração norte-americana, que produziu como prova um vídeo desfocado, a preto e branco, de um suposto navio iraniano a retirar uma mina por explodir do casco do Kokuka Corageous. Contudo, a empresa dona do navio japonês já negou que tenham sido utilizadas minas no ataque e dizem que os tripulantes avistaram objetos voadores antes da explosão.

Estas contradições não impediram os EUA de tentar “construir um consenso internacional” quanto à culpa do Irão, segundo o Ministro interino da Defesa dos EUA, Patrick Shananhan. A campanha conseguiu os apoios esperados, como o da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos – ferozes rivais regionais do Irão -, mas também de pesos pesados, como a chanceler alemã, Angela Merkel, apesar dos pedidos de cautela de Bruxelas. 

 

——– Notícia corrigida às 14h e 31 min ————-