O duelo entre Johnson e Hunt

O confronto final será entre Boris Johnson e Jeremy Hunt no dia 22 de julho. Membros conservadores terão que decidir entre uma saída de linha dura ou uma saída acordada.

Os deputados conservadores foram às urnas quatro vezes durante esta semana, numa contestação que foi eliminando os candidatos com menos votos. Os dois concorrentes finais foram decididos esta quinta-feira e serão Boris Johnson – o grande ideólogo da saída de linha dura –, e Jeremy Hunt, atual chefe da Diplomacia britânica, que defende uma posição mais moderada em relação ao Brexit. O repto final será no dia 22 de julho e está agora nas mãos dos 140 mil membros do Partido Conservador.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Johnson, foi sem dúvida a grande estrela deste processo eleitoral. O candidato favorito a ocupar o número 10 de Downing Street chegou mesmo aos 160 votos na última ronda – mais de metade do grupo parlamentar dos Tories –, no que poderá ser visto como uma mensagem forte dos deputados conservadores aos seus membros. Por outro lado, Hunt conseguiu passar à fase final por apenas mais dois votos (77) do que Michael Gove (75), o atual ministro do Ambiente, numa eleição marcada por rumores de jogadas nos bastidores para impedir que Gove fosse o adversário de  Johnson em julho.  

As diferenças entre os dois candidatos agitam-se à volta do Brexit, como não podia deixar de ser, e são pequenos pormenores que podem fazer toda a diferença. Johnson quer sair da União Europeia a 31 de outubro – o prazo previsto –, mesmo que isso signifique uma saída não negociada. O antigo líder da Câmara de Londres admite que um rompimento de linha dura com Bruxelas poderá causar perturbações no país, mas defende que a única maneira de «conseguir um bom acordo é preparar para um não-acordo». Johnson  é ambíguo em relação às salvaguardas a uma fronteira física na Irlanda. Quer ver a questão retirada do  acordo e  substituí-la com «arranjos alternativos», não especificando o que isso significa. Por fim, o hard brexiteer  ameaça não pagar os 40 mil milhões de euros da cláusula de divórcio com Bruxelas como parte da sua estratégia negocial com a União Europeia, querendo reter o dinheiro até «haver maior clareza sobre o caminho a seguir».

Já Hunt admite sair da União Europeia sem acordo, não sendo, no entanto, a sua opção favorita. O chefe da diplomacia britânica quer  fazer alterações ao atual pacto negociado por May e acha que o conseguirá até 31 de outubro, não descartando um possível adiamento do prazo de saída. Hunt quer enviar uma nova equipa de negociação a Bruxelas para prevenir um fronteira física na Irlanda, pondo fé em meios tecnológicos  para controlo fronteira.

Ambos os candidatos poderão enfrentar um voto de confiança em Westminster logo a seguir à sua nomeação como primeiro-ministro, o que poderá provocar eleições legislativas, adiando ainda mais a indefinição do país sobre o Brexit.