É uma das oradoras da conferência ‘Nascer Mais, Envelhecer Melhor’, que decorre hoje. Faz sentido uma conferência que junta natalidade e envelhecimento?
O nascimento e o envelhecimento são dois temas naturalmente ligados, nós só conseguimos envelhecer se nascermos. E na atualidade, quer em termos de nascimentos quer em termos de envelhecimento, estamos a bater recordes históricos. Em Portugal, nunca como hoje – nos anos mais recentes – se nasceu tão pouco. Desde 2011 que o número de nascimentos é inferior a 100 mil por ano. Aliás, em 2018 foi 87020. No início da década de 1960, quando Portugal tinha cerca de mais um milhão e 400 mil habitantes que atualmente, nasciam em média por ano cerca de 200 mil crianças. Estamos com níveis de natalidade muito baixos. Ao mesmo tempo, a população nunca esteve tão envelhecida e o número de pessoas com 65 ou mais anos ultrapassa o número de jovens desde 2001. No início dos anos 70, existiam mais de dois milhões e 400 mil jovens, em 2018 existiam menos de um milhão e 500 mil. Em contrapartida, o número de idosos, que no início dos anos 70 era inferior a um milhão, hoje é superior a dois milhões e 200 mil. Isto quer dizer que a sociedade mudou muito e enfrenta novos desafios – estamos com tempos novos de sociedade.
Que novos tempos são esses?
A sociedade passa a ter um corpo diferente, verticaliza-se e existem cada vez mais gerações diferentes em presença. Não é por acaso que se nasce menos do que se nascia no passado nem é por acaso que estamos a envelhecer: estamos a envelhecer em virtude da diminuição do número de nascimentos, que por sua vez é fruto de uma série de fatores que têm que ver com o desenvolvimento da sociedade. Hoje, por exemplo, o valor da criança é bem diferente do valor que tinha no passado, a criança adquiriu um valor muito emocional.