“Estava bastante desapontada em termos de relações e decidi começar a frequentar comunidades online” começou por dizer Sofia (nome fictício) que aos 22 anos, recorda aquilo que viveu quando entrou na casa dos vinte: no Chatroulette, onde se pode ter conversas de vídeo com pessoas aleatórias, expunha o seu corpo e, quando o recetor das suas mensagens lhe agradava, a comunicação estendia-se até ao Skype.
Hoje, percebe que foi “irresponsável e inconsequente” mas julgava que a atenção que obtinha através das suas características físicas poderia substituir a necessidade de ser reconhecida enquanto ser humano. “Conheci um rapaz italiano, fiz algumas chamadas com ele, em que basicamente nos masturbávamos e eu estava despida. Tinha o meu rosto completamente à vista” contudo, Sofia deixou de achar piada ao entretenimento e foi ameaçada pelo italiano. Em poucas palavras, disse à rapariga que tinha gravado todas as videochamadas e que as partilharia em sites de pornografia caso ela não continuasse a conversar com ele. Aliás, realçou que já tinha destruído a vida a outra mulher.
“Entrei completamente em pânico. Ele não tinha acesso a nada mais do que o meu Skype, mas isso já me parecia muito. Continuou a tentar adicionar-me com diferentes contas durante alguns dias, mas eu não aceitei” revelou, acrescentando que desconhece se o rapaz a expôs. Nos primeiros meses, pesquisava regularmente determinadas palavras-chave em páginas que conhecia e esperava encontrar-se a protagonizar atos sexuais. Embora o medo tenha diminuído a par e passo com a procura pelos vídeos, ainda se sente mal disposta quando pensa no passado: “começo a hiperventilar sempre que me lembro desta situação”.
Mais do que a verem nua ou em atos considerados “indecentes”, Sofia temia as consequências que a divulgação dos vídeos poderia trazer para si e para a sua família em termos de reputação. “Além de uma necessidade premente que a maioria das pessoas tem de ir assistir – principalmente em meios pequenos -, a pessoa envolvida fica marcada por preconceitos que ditam que é menos séria ou digna de respeito” sendo que na sua ótica, a pornografia de vingança “é quase como um circo, em que se desumaniza completamente a pessoa”.
Apesar de prezar a liberdade individual, não fazendo juízos de valor a quem se expõe online, Sofia ganhou da sua experiência desagradável a noção de que procurava algo que não encontraria nos chats, não querendo ser “moralista” nem apontar “o caminho certo”.