O historiador e jurista português António Manuel Hespanha morreu ontem à tarde, vítima de cancro do cólon, na Fundação Champalimaud, em Lisboa. António Hespanha tinha 74 anos e encontrava-se internado no centro clínico da instituição.
Nascido em 1945, em Coimbra, cresceu na Bairrada e voltou à cidade natal para, por influência familiar, cursar Direito. O gosto pessoal levou-o a um doutoramento de História, que concluiu com a tese Vésperas do Leviathan – Instituições e Poder Político em Portugal no século XVIII. E acabou por ser a conjugação de caminhos – o da História e o do Direito – a moldar a sua carreira.
Professor catedrático aposentado, descrito como um docente estimulante, deixou uma vastíssima obra. Segundo o seu curriculum publicado na página do Centro de Investigação e Desenvolvimento sobre Direito e Sociedade (CEDIS), era o historiador português mais citado internacionalmente, “sendo considerado um dos nomes mais importantes no estudo da história institucional e política dos países ibéricos”. Publicou cerca de 150 artigos e cerca de 30 livros em História do Direito e das Instituições.
Era-lhe reconhecida coragem intelectual e precisão científica, duas qualidades com que, ao longo da sua carreira, foi conseguindo mudar as perspetivas e estimular revisões historiográficas, especialmente no que concerne à organização social e política do período do Antigo Regime.
António Manuel Hespanha foi ainda diretor-geral do Ensino Superior, inspetor do Ministério da Educação, assistente da Faculdade de Direito de Lisboa e professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sendo também investigador honorário do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
A propósito do lançamento do seu mais recente trabalho, Filhos da Terra – Identidades Mestiças nos Confins da Expansão Portuguesa, publicado pela Tinta-da-China, explicava em março deste ano, em entrevista à TSF, como era importante olhar para o outro lado e qual era o ponto de partida das suas investigações, quer tratassem a História do Direito, História Política, História Colonial ou a Teoria do Direito. “Sempre com a mesma técnica que utilizo neste livro: olhar para outro lado, isto é, não para aquilo para que se costuma olhar mas com uma outra perspetiva”.