Alguns encontros da seleção francesa feminina de futebol, a competir no Campeonato do Mundo de França, captaram audiências televisivas na TF1 e no Canal + superiores a determinados jogos da seleção gaulesa masculina de futebol no Mundial da Rússia do ano passado.
Não me surpreendeu que a maioria dos telespetadores fosse do género masculino. No desporto em geral há mais audiências masculinas do que feminina.
Já apanhou-me desprevenido verificar-se que o número de mulheres que assistem na TV ao Mundial feminino é semelhante às telespetadoras do Mundial masculino. Isto significa que as mulheres que gostam de futebol assistem tanto a um como a outro, pouco importando o género.
No ténis não é assim. Tanto mulheres como homens tendem a ‘consumir’ mais na televisão ténis masculino do que feminino.
Durante anos o Eurosport teve os direitos televisivos dos torneios de categoria Premier do circuito WTA. Falamos de competições como Indian Wells, Miami, Madrid, Roma, etc., e, sobretudo, do próprio Masters, que reúne as oito melhores do Mundo.
As audiências não eram famosas, não se comparando aos torneios masculinos da categoria mais baixa, os ATP 250.
Desde que o Eurosport deixou de transmitir o circuito WTA, o ténis feminino perdeu cobertura televisiva em alguns países como, por exemplo, Portugal. Felizmente para a WTA, os live streamings colmataram em parte essa lacuna.
Esta realidade tem naturais consequências negativas na luta em que toda a sociedade deve investir-se pela igualdade de direitos de géneros, ideal para o qual o desporto também pode contribuir.
Mas as próprias mulheres têm de dar um sinal ao mercado de que querem que o desporto feminino de alto rendimento tenha o mesmo prestígio – e, consequentemente, destaque mediático – do masculino. No ténis não é isso que se verifica.
Na segunda-feira passada o ténis passou a ter uma nova n.º 1 mundial, a australiana Ash Barty, e chocou-me o pouco mediatismo que essa novidade mereceu, tal como quando, em anos anteriores, foram n.º 1 Simona Halep, Angie Kerber e Karolina Plisková.
Nem todas podem ter o magnetismo de Serena Williams, Maria Sharapova ou, mais recentemente, Naomi Osaka.
Ash Barty é uma jovem de 23 anos com uma história de vida invulgar e inspiradora, com um estilo técnico-tático variado e atraente, que bem merece ser idolatrada por todas as meninas, meninos, mulheres e homens.
Pregar aos peixes ou no deserto das redes sociais alivia a alma, mas para mudar, às vezes, é preciso mais e está nas nossas mãos enquanto consumidores. As Ash Barty deste mundo merecem.