As negociações entre a plataforma Unidas Podemos e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) para a investidura do próximo Governo de Espanha prosseguem sem fim àvista.
Depois do encontro fracassado de terça-feira, Pedro Sanchéz, líder do PSOE, ofereceu ministérios ao Podemos, mas com certas condições. De um lado, Pablo Iglesias, líder do Unidas Podemos, pedia uma negociação «integral» dos cargos do Executivo e o seu respetivo programa – ou seja, uma coligação de Governo. Do outro, Pedro Sanchéz queria apenas uma negociação programática, pelo que admitiu oferecer ministérios ao Podemos, desde que sejam independentes e tenham um perfil técnico.
Esta parece ser, no entanto, a única concessão que Sanchéz está disponível a fazer. Embora diga que o Unidas Podemos seja o parceiro favorito para acordar a investidura, o secretário-geral do PSOE invoca graves divergências com a plataforma de esquerda. «Um Governo tem que ter coesão interna absoluta e, em assuntos de Estado, há divergências de fundo com o Unidas Podemos», declarou Sanchéz na quinta-feira, em entrevista à TVE. Para o primeiro-ministro em funções, a crise na Catalunha enquadra-se nas graves diferenças nos «assuntos de Estado». «Falam de presos políticos e o PSOE não», sublinhou, concluindo que «um Governo com o Unidas Podemos poderia paralisar-se por contradições internas». Nesta matéria, Pedro Sanchéz sublinhou ainda que não queria um Governo que «dependa do independentismo».
Todavia, Iglesias não se sensibilizou com a oferta socialista para a nomeação de ministros sem perfil político por parte do Podemos. «Na democracia não governam tecnocratas», observou o líder da plataforma de esquerda. «Penso que é um absurdo que à frente dos ministérios não possam estar pessoas que foram eleitas nas eleições», declarou, insistindo numa coligação governamental entre o Podemos e os socialistas.
O impasse sem fim à vista levou ontem Iglesias a lançar uma consulta interna no partido para os cerca de 190 mil membros decidirem se aceitam a proposta de Sanchéz. A votação decorrerá na próxima quinta-feira, poucos dias antes do início do processo de investidura. Ou seja, a base do Podemos terá que decidir entre um Executivo traçado pelos socialista, ou um Governo de coligação.
O PSOE elegeu 123 deputados, uma distância considerável para os 176 necessários para a maioria absoluta. Ainda assim, Sanchéz quer arriscar a investidura no dia 23 deste mês sem os votos favoráveis do Unidas Podemos, Partido Popular ou do Ciudadanos. Contudo, este impasse, que já dura desde de abril, tem favorecido o líder do PSOE nas sondagens. Segundo um estudo feito pelo El País, se as eleições se repetissem hoje, o PSOE teria 32% (contra 28% nas eleições de abril). Já o Unidas Podemos desceria o seu resultado para 13% dos votos (contra 14,3%).
Não obstante, cerca de 26,4% dos espanhóis parecem querer um Governo de coligação entre os socialistas e o Podemos, segundo um inquérito feito pelo Centro de Pesquisas Sociológicas.