Desde segunda-feira os surdos podem chamar o 112 através de uma aplicação que funciona nos sistemas Android. A medida há muito prometida e essencial para os cidadãos com estas características não foi, porém, acompanhada de um reforço dos operacionais da PSPe GNR no COSUL, ou seja a central Sul responsável pela resposta a nove distritos. A única diferença é que passou a existir em permanência um intérprete de língua gestual que, depois da triagem por escrito, feita pelo operacional entra em ação por videochamada.
«Ainda existe alguma confusão como será feita a transferência das ligações para o INEM depois do atendimento pelos intérpretes. Os operacionais que estão no COSUL fazem a triagem por mensagem, depois transferem a mesma para os tradutores de linguagem gestual, mas não se sabe ainda quem é que vai depois passar a chamada para o INEM», explica ao SOL uma fonte que preferiu não ser identificada, negando que tenha sido preparada a entrada em vigor deste novo serviço junto dos operadores. Segundo o site 112.pt cabe ao utilizador da aplicação escolher se prefere fazer o contacto por videochamada ou por mensagem escrita.
Ao contrário das ligações convencionais, através de ligação telefónica, que são divididas pela central Norte e pela central Sul, todos os contactos feitos através da nova aplicação para sistemaAndroid serão atendidos no sul, ou seja, nas instalações de Oeiras.
Atendimentomais demorado
Segundo diversas fontes relataram ao SOL o novo atendimento é mais moroso dado que o operacional terá de fazer a triagem por mensagem, o que significa que a capacidade de resposta, já limitada, poderá vir a ficar ainda mais comprometida caso não haja qualquer reforço de meios.
«Estas serão chamadas mais demoradas e face aos poucos recursos humanos que existem vão entupir mais ainda o serviço de emergência, com as consequências inerentes», explica a mesma fonte.
Outra fonte acrescenta que esta medida vem sobrecarregar a central que tem menos recursos: «O COSUL que já está entupido de chamadas e com poucos recursos humanos vai ficar com as linhas ainda mais ocupadas, caso não se decida fazer um reforço para dar resposta a esta medida».
O SOLcontactou ontem o Ministério da Administração Interna que encaminhou todos os esclarecimentos para a PSP – que não respondeu até à hora de fecho desta edição.
Sete operacionais na central Sul
Em agosto do ano passado o caos no 112 foi notícia. O i noticiou que no início daquele mês, altura em que o país estava a braços com grandes incêndios, nomeadamente a Sul, nas escalas podia ler-se que em alguns turnos das 00h às 8h só havia três elementos a atender as chamadas dos nove distritos do Sul do país.
Atualmente a situação não é tão grave, dado que desde o ano passado houve reforços, mas ainda está longe de ser ideal – na próxima semana os turnos da manhã vão variar entre sete a oito operacionais.
A medida que entra agora em vigor vem já com dois anos de atraso, uma vez que em 2016 foi anunciada pela secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, para estar em funcionamento no ano seguinte.
Ao Público, a governante explicou que o atraso se deveu a dificuldades inesperadas. Em primeiro lugar, diz, «não foi fácil criar uma aplicação compatível com as plataformas da Proteção Civil», em segundo foi complicada a contratação de intérpretes de língua gestual para as videochamadas.
APP exigiu um grande esforço
No site 112.pt (onde se pode descarregar a aplicação) pode ler-se que foi feito um grande esforço para conseguir pôr em funcionamento esta aplicação. «Estes novos canais de comunicação com o serviço 112, disponibilizados à comunidade de cidadãos surdos com domínio da Língua Gestual Portuguesa, exigiu um significativo esforço não só ao nível das mudanças tecnológicas implementadas no Serviço 112, mas também ao nível dos recursos humanos envolvidos no processo de atendimento e despacho», refere-se, elencando algumas das medidas que tiveram de ser tomadas para que este serviço pudesse entrar em funcionamento: «Adaptação dos Centros Operacionais a novos media (vídeo, chat e SMS); Obtenção da localização do chamador; Treino e preparação da equipa operacional para novas formas de atendimento; Contratação e treino de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa; Definição de novos procedimentos para este novo desafio».
Até ao início do próximo ano o serviço vai estar a funcionar como projeto-piloto, ainda que capaz de responder a todo o país. Neste momento desconhece-se, por exemplo, qual a adesão da comunidade de pessoas surdas a esta aplicação – calcula-se que existam em Portugal perto de 85 mil surdos.