O anti-inflamatório ibuprofeno tem efeitos anticancerígenas, segundo uma investigação realizada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e publicada na revista European Medical Journal. De acordo com os resultados apresentados, o uso prolongado do anti-inflamatório inibe o crescimento das células malignas, tendo um efeito especialmente mais forte no cancro do colón.
Anteriormente, outros estudos já tinham declarado que tanto o ibuprofeno como a aspirina apresentavam um efeito quimiopreventivo contra o desenvolvimento do cancro do cólon, em indivíduos com risco aumentado. Isto devido ao efeito inibitório que o anti-inflamatório tem sobre as atividades enzimáticas do organismo, que está na origem da produção de moléculas pro-inflamatórias conhecidas como prostaglandinas.
Agora, segundo novos dados do INSA, o ibuprofeno "impede as células cancerigenas de produzirem variantes tumorigénicas de certas proteínas, num processo conhecido como 'splicing' alternativo", segundo declarações do líder da equipa, Peter Jordan à Lusa. "O nosso trabalho veio mostrar que, pelo menos, o ibuprofeno tem outros mecanismos de ação que também podem estar na origem deste efeito anticancerígeno", acrescenta.
No caso do cancro do cólon, uma das variantes tumorigénicas que a equipa de investigação identificou anteriormente caracteriza cerca de 10% dos tumores e estimula a taxa de sobrevivência das células malignas. "Existem subgrupos geneticamente distintos de cancro do colón e o ibuprofeno atua sobretudo sobre um subgrupo que explica 10 a 15%" destes tumores, explica o investigador.
Segundo Peter Jordan, "o ibuprofeno, mas não outros AINE como a aspirina, ao contrariar a produção desta variante consegue inibir o crescimento das células malignas", explicou o investigador. Na sua opinião, apesar das conclusões alcançadas, é necessário existir um estudo mais aprofundado sobre a temática e os seus efeitos e perceber se vale a pena "investir mais na utilização do ibuprofeno em certos casos de doentes".