Quando um destes dias um dos meus filhos disse todo satisfeito a duas professoras que ainda tinha mais dois meses de férias pela frente, enquanto uma delas suspirava ‘Quem me dera’, eu e a outra professora respondemos em uníssono: ‘Nós também já tivemos!’. Senti-me velha, mas afortunada. Não pelas férias do meu filho, mas por todos aqueles anos em que pude estar de férias tanto tempo.
Já pelas férias dos meus filhos por vezes não me sinto particularmente afortunada, pois geralmente implicam a inexistência das minhas.
A praia com filhos é totalmente diferente. Na verdade há várias praias ao longo da vida. Há a primeira em que chegamos a correr e fazemos construções atrás de construções com baldes e pás, passamos horas na água, damos 30 mergulhos por minuto e temos o maior sorriso de alegria. A segunda em que levamos a toalha e um livro, fazemos uma almofada de areia para a cabeça e refastelamo-nos a ler, a apanhar sol, damos umas braçadas e uns mergulhos demorados e prazerosos em que vemos o sol a entrar pela água com um sorriso de satisfação. E a terceira em que chegamos já cansados, carregados de toalhas, chapéus, carrinho de bebé, pás, baldes, moinhos de areia, forminhas, braçadeiras e cremes, procuramos um buraquinho não muito longe e arrastamo-nos até lá enquanto vamos apanhando chinelos pequeninos que vão sendo deixados pelo caminho.
Não sei há quanto tempo não me estendo numa toalha a sentir o sol vermelho e quente através das pálpebras fechadas. Os olhos têm de estar sempre abertos e às vezes podiam ser até mais alguns para controlar tanta criançada. Só se fecham quando são atingidos por areia ou água, o que não é raro. Esta terceira praia é a praia do alerta. Sempre em sentido temos de ter a certeza de que ninguém se afoga, enquanto apreciamos mergulhos e acrobacias e atribuímos pontuações a uma velocidade estonteante, seguimos todos atentamente para ter a certeza de que não se perdem entre as pessoas, de que não pisam as toalhas dos outros, que não abusam da paciência dos outros pais, que em vez de terem um filho para jogar à bola, passam a ter cinco. Temos de controlar as birras e os desacatos, adormecer o bebé no carrinho, sacudir as toalhas trezentas vezes, retocar o protetor já cheio de areia, trocar calções molhados por calções secos e no final reunir tudo e todos e regressar.
Se me dissessem há 20 anos que ir à praia podia ser tão cansativo eu não acreditava. Mas se me perguntassem agora se abria mão desta praia por uma sem crianças também recusava. Apesar do cansaço, esta praia é alegre, cheia de vida, como a nossa quando éramos crianças. Agora do outro lado, numa troca quase perfeita, os mais pequenos permitem-nos voltar a brincar enquanto nós lhes proporcionamos bons momentos e boas memórias. Dias em família de maior proximidade, partilha e descontração. E enquanto não chega a quarta praia – a que já tem direito a jornal e cadeirinha – vou aproveitar esta, que é sem dúvida a mais cansativa mas também a mais rica de todas.