Fruto de temperaturas bem superiores ao normal (este ano é já mais um exemplo disso) e outras condições meteorológicas menos usuais, têm-se acentuado o número e a gravidade dos incêndios florestais e rurais um pouco por toda a Europa. Não são já poupados, sequer, os países mais a Norte. O número de ocorrências e áreas ardidas não pára de crescer em países como Reino Unido ou Suécia, sendo notória as dificuldades dos respetivos sistemas de proteção civil para lidar com a situação.
Mas, serão as mudanças climáticas as principais responsáveis por este estado de coisas?
Analisando de perto a situação, parece concluir-se que sim no que toca ao alastramento dos incêndios a latitudes mais elevadas. Esse é o vetor chave e países como os citados (mas não só) terão que se preparar para lidar com risco de incêndio agravado, ignições em maior número e situações cada vez mais críticas, com danos também cada vez maiores.
Contudo, quando se comparam países como Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia ao longo dos últimos 40 anos (Luciano Lourenço, 2018), a realidade surge bem diferente. Quanto ao número de incêndios, a tendência é de diminuição em França, Itália e Grécia, ao contrário do que acontece em Portugal (mais) e Espanha (menos). Quanto a áreas ardidas, a singularidade portuguesa acentua-se: Portugal é o único país em que as mesmas têm aumentado. Ora, sendo a comparação entre países com exposição às alterações climáticas idêntica, isso remete para razões internas que urge averiguar.
O perigo espreita. O (des)ordenamento florestal e do território, o despovoamento, a limpeza e valorização do espaço rural (serviço público!), a organização e qualificação do dispositivo de resposta e a educação e envolvimento dos cidadãos são áreas em que Portugal tem que fazer tudo, com urgência, para que não se repita mais 2017!
Artur Fernandes Costa
Coordenador da Licenciatura em Engenharia de Proteção Civil – Universidade Lusófona do Porto