O Palacete Viscondes de Valmor, no número 38 da Avenida da República, em Lisboa, virou hostel em abril deste ano e continua em funcionamento, mesmo depois de a Câmara Municipal ter garantido em junho que o edifício seria teria de ser encerrado. Contactada, novamente, pelo SOL sobre o eventual atraso no encerramento do hostel, a autarquia não respondeu até ao fecho desta edição. As últimas palavras da Câmara Municipal de Lisboa ao SOL chegaram no dia 7 de junho: «A Câmara Municipal de Lisboa levantou no passado mês de maio autos de notícia, por contraordenação, pela realização de obras de conservação em imóveis classificados, sem alvará de licenciamento, e ainda, por falta de autorização de alteração de uso. Na altura, anunciou ainda que seria cessada a utilização do espaço e o cancelamento do registo como alojamento local», adiantando ainda que «o processo administrativo relativo a estas decisões [se encontrava] em fase final de tramitação».
Ainda que o encerramento esteja para breve, as reservas continuam a ser feitas e, por exemplo, numa das plataformas online de reserva de quartos, o Dear Lisbon – nome do hostel – está esgotado para este fim de semana e a procura é grande.
As obras no interior do edifício galardoado com um prémio Valmor – condição que obriga a que todos os projetos de obras sejam remetidos à Câmara Municipal de Lisboa e à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) – foram feitas no início do ano sem qualquer licenciamento. Tal como tinha noticiado o SOL, a DGPC confirmou «que não houve qualquer nova entrada na DGPC sobre o palacete em assunto». E, ainda de acordo com a entidade que gere o património nacional, «os processos de obras para o Palacete Viscondes de Valmor correspondem a projetos bastante antigos». Agora, o Prémio Valmor chama-se Dear Hotels, está completamente renovado e, nele, uma noite pode chegar aos 200 euros, segundo o site da empresa.
O Prémio Valmor foi atribuído ao Palacete Viscondes de Valmor em 1906 pela conjugação de «elementos neorromânticos, neoclássicos, de Arte Nova, para além de fazer alusão ao padrão da Casa Portuguesa», segundo consta no site da Câmara Municipal de Lisboa. Além disso, sendo também classificado como Imóvel de Interesse Público – em 1977 -, é obrigatório que seja submetido um projeto de conservação à CML para aprovação quer pela câmara municipal, quer pela Direção-Geral do Património Cultural.
Como também já tinha sido noticiado, o SOL questionou a autarquia de Lisboa no dia 18 de janeiro sobre se tinha conhecimento de que as obras estavam em curso, tendo o município, a 21 de janeiro, intimado «os proprietários do Palacete Viscondes de Valmor (…) a realizar obras de conservação».
Ou seja, o ultimato da Câmara Municipal de Lisboa só foi enviado depois de as obras terem começado e, na altura, decorriam – também segundo a CML – «trabalhos de limpeza do logradouro, corte e desbaste de arvoredo, consolidação do muro que delimita a propriedade, reparação do respetivo gradeamento e substituição dos vidros partidos».
O Palacete Viscondes de Valmor foi projetado pelo arquiteto Miguel Ventura Terra e construído nos anos de 1905 e 1906. Já foi um edifício de habitação e, mais tarde, em 1983, albergou o Clube dos Empresários – um restaurante de luxo. Em 2007 ainda era o local de encontro dos empresários da cidade de Lisboa, conhecido como o sítio ideal para fazer negócios, mas foi encerrado pela ASAE por falta de condições. Abriu portas dias depois e voltou a encerrar até hoje, tendo agora uma nova vida, a de guest house.