Desde que João Sousa passou a competir sistematicamente no ATP Tour, habituou-nos a uma carreira cuja linha de resultados parece uma montanha russa.
A períodos prolongados de maus resultados, que provocam coros de críticas negativas, sucedem-se sempre picos elevados, fazendo-o passar de besta a bestial.
Os fãs que não acompanham o ténis numa base diária (nem são obrigados a fazê-lo) habituaram-se de tal forma à consistência descomunal e pouco habitual de campeoníssimos como Novak Djokovic, Rafael Nadal e Roger Federer, que depois exigem o mesmo aos restantes jogadores.
Mas cada atleta de alta competição é um pequeno mundo singular e João Sousa tem esta característica de súbitas oscilações de rendimento.
Há, no entanto, algumas constâncias na sua carreira. Uma delas é que mais tarde ou mais cedo lá vem uma final: uma em 2013, duas em 2014, quatro em 2015, duas em 2017 e uma em 2018. Só em 2016 não esteve em nenhuma.
São dez finais em seis anos, um palmarés fabuloso e impensável para o ténis português antes de ele aparecer na alta-roda internacional.
Escrevo antes de o vimaranense jogar os quartos de final no Open da Suíça e, por isso, não sei se terá atingido as suas primeiras meias-finais deste ano, mas há ainda três meses pela frente e não me admiraria vê-lo em mais uma final até a época terminar.
Outra das suas constâncias é transitar bem da mini época de relva para a terra batida, o que nem sempre é fácil.
Em 2013 ainda jogou Challengers depois de Wimbledon, mas em 2014 foi à final do Open da Suécia (Bastad), em 2015 foi finalista no Open da Croácia (Umag) e quarto finalista em Gstaad, em 2016 somou quartos de final em Bastad e Umag e em 2017 foi quarto finalista em Gstaad e finalista em Kitzbuhel. Só em 2018 esteve mal, com uma derrota precoce em Gstaad.
Este ano, depois de ter-se tornado no primeiro português a atingir os oitavos de final de Wimbledon (e em relva já tinha sido quarto finalista em Antalya), acaba de somar mais duas presenças consecutivas nos quartos de final de torneios de terra batida, em Bastad e Gstaad.
Há, no entanto, algo de diferente no João Sousa em terra batida nestas duas últimas semanas. O calor na Suécia e a altitude (aliado a temperaturas igualmente elevadas) na Suíça têm tornado as condições de jogo mais rápidas e estamos a ver o n.º 1 português não só agressivo do fundo do court como é habitual, mas mais atacante.
Vejo-o a servir melhor, a encurtar os pontos, a subir mais a rede e isso só pode ser positivo quando está prestes a iniciar a temporada de hardcourts.