Esta frase, que a Eulália fotografou na estação de comboios de Entrecampos, em Lisboa, diz: «A única coisa que nunca mudará no universo é o facto de ele estar sempre a mudar». Esta é uma verdade que não podemos contestar porque a observamos a todo o momento. Já Camões dizia: «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / (…) / Todo o mundo é composto de mudança».
É fácil observarmos esta verdade, em nós, nos outros, no mundo à nossa volta. É a mudança que faz de nós aquilo que somos. Na essência permanecemos iguais, mas vamos mudando, ao longo dos anos, com aquilo que vamos vivendo, com os contactos que temos com os outros, com as pessoas que vamos conhecendo. De facto, como diz Tolentino Mendonça, muito do que nos acontece tem «na sua origem uma mudança, uma perda, um luto, um fracasso a que temos de responder, qualquer coisa com que não contávamos, uma alteração de planos que nos transcende ou, então, um desejo que nos sobe por dentro e deve ser absolutamente escutado». É efetivamente a alteração de planos que conduz à mudança dentro de nós, reflexo da mudança exterior.
Se vivêssemos sempre de forma igual, se fizéssemos tudo semelhante todos os dias, se sentíssemos sempre o mesmo, haveria uma multiplicidade de atos, de sentimentos, de lugares, de pessoas que nunca viríamos a conhecer e, como tal, a vida não seria tão rica como é. É a mudança e a multiplicidade que alimentam o nosso imaginário, que nos fazem sonhar, que nos tornam criativos.
Em entrevista recente, a propósito de um encontro literário em Portugal, Nélida Piñón, tece considerações muito interessantes, quando o jornalista comenta que «Xerazade impõe a palavra à lâmina, a vida à morte». Responde a autora: «A imagem é extraordinária: uma história vale mais do que qualquer construção arquitetónica, que todo o ouro do mundo. E na verdade, o imaginário é o que de mais gratuito temos. Começa a desenvolver-se assim que nascemos: nas cantigas dos pais, nos cheiros e sons, nas conversas. Cabe-nos nunca perder essa matéria-prima fundadora.»
É realmente através das palavras que vamos construindo o imaginário que nos leva à criação do mundo. É essa «matéria-prima fundadora» que nos guia e orienta, transmitida pela família, esse «laboratório de humanização», que nos ajuda a ultrapassar obstáculos e que nos conduz à descoberta constante desse tal mundo pleno de mudança.
Muitas vezes a mudança fora de nós gira a um ritmo diferente daquele que sentimos em nós. Esse desfasamento é, por vezes, de difícil compreensão e aceitação. Uma vez mais são as palavras, sobretudo as dos outros, que nos podem ajudar a compreender o que se passa, porque, como afirma António Lobo Antunes: «o escritor não passa de um relojoeiro das emoções (…) a tentar fazer coincidir os ponteiros da alma com os do tempo».
E o tempo passa tão depressa que, num instante, de criança chegamos a velhos…
Maria Eugénia Leitão