A associação ambientalista 'Zero' defendeu esta quarta-feira o fim das centrais a carvão de Sines e Pego até 2023. A associação quer que em 2021 seja já desativada metade da central de Sines.
Em comunicado às redações, a Zero reforça que a EDP quer prolongar até 2029 a licença ambiental da central elétrica de Sines. A renovação está em consulta pública até ao dia 9 de agosto.
Segundo esta associação ambientalista, metade da central de Sines deverá ser desativada até 2021, com "dois dos quatro grupos [geradores onde se queima carvão] da central" a serem desmantelados.
O Governo aponta que a central elétrica de Sines tem data prevista de desativação até 2030. Contudo, a Zero quer ver Portugal "livre de carvão mais cedo" e aponta mesmo para 2023.
O encerramento das duas centrais não obrigará o Estado a dar "qualquer compensação aos operadores" segundo a associação, que aponta ainda que os contratos de funcionamento da central de Sines terminaram em 2017, enquanto os da central do Pego terminam em 2021.
A associação ambientalista reforça que há ainda o "dever moral das empresas de não contribuírem para o agravamento da crise climática.”
Apesar de se tratarem das duas maiores centrais elétricas do país são demasiado poluentes. A Zero destaca que as centrais de Sines e Pego emitiram cerca de 7,4 e 2,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono respetivamente. Para além disso, entre 2008 e 2017, foram também responsáveis por uma média de cerca de 17% das emissões totais nacionais de gases com efeito de estufa em Portugal.
A solução, segundo esta fonte, passa mesmo pelo investimento nas energias renováveis, que são mais baratas para os consumidores e não emitem gases diretamente. "Os investimentos para a produção de eletricidade a partir de fontes de energia renovável, tal como demonstrado através do recente leilão relativo a instalações centralizadas de produção a partir de energia solar, conseguirão assegurar uma fração progressivamente significativa da geração de eletricidade."
A Zero apoia-se no mais recente relatório da Direção-geral de Energia e Geologia para argumentar que o fecho destas centrais “não tem impactos significativos na segurança do abastecimento.”
Segundo esta associação, até ao ano de 2023 há tempo para “um plano de promoção de atividades económicas ligadas à urgente transição energética” da utilização de combustíveis fósseis para fontes limpas e renováveis. No entanto, será sempre necessária uma participação “ativa dos trabalhadores e das suas organizações.”
O lado económico
Apesar de uma diminuição das emissões de dióxido de carbono serem absolutamente necessárias, numa altura em que cada vez se aciona mais cedo o cartão de crédito ambiental do planeta, várias pessoas serão afetadas com o fecho destas centrais.
O desmantelamento das centrais de Sines e do Pego significariam que cerca de 650 trabalhadores das duas centrais e do porto de carvão ficariam sem trabalho.
Contudo, a Zero afirma que é esperado que com o dinamismo de setores como a energia obtida através do Sol, sejam criados " pelo menos 20 mil postos de trabalho nos próximos 10 anos no país.”
Por outro lado, a EDP – organismo responsável pela central elétrica de Sines – é quem mais poderá sair a ganhar, caso esta permaneça ativa até 2030.
Um estudo elaborado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) relativamente à viabilidade económica da exploração desta central no futuro, concluiu que quem a explorar – neste caso a EDP – poderá lucrar centenas de milhões de euros.
Contudo, a empresa do sector energético já admitiu publicamente que a perda de competitividade neste seto poderá levar ao encerramento antecipado da central de Sines.
O responsável pela Direção de Sustentabilidade do grupo EDP, António Martins Costa, garantiu, no entanto, que o encerramento da central terá que ser feito com "alguma cautela", visto que esta “garante a estabilização da rede elétrica em todo o país, e nomeadamente na zona sul.”
O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, já afirmou que a central elétrica do Pego encerrará até 2022. Quanto à de Sines, 2030 permanece como a data de encerramento.
As centrais de Sines e do Pego são ainda peças centrais no panorama do sistema elétrico nacional. Preenchem regularmente a base de carga da rede elétrica portuguesa e esta é uma função que as energias renováveis – como a solar e a eólica – não podem de momento cumprir, a não ser que estejam associadas a tecnologias de armazenagem de elevada escala.