No início da segunda ronda de debates ficou evidente a enorme diferença entre os candidatos progressistas, representados por Elizabeth Warren e Bernie Sanders, e a ala moderada do Partido Democrata. Os centristas agiram em bloco para tentar abafar a sua ala esquerda, acusando os adversários de fazer propostas fantasiosas e de colocar em risco as esperanças de o partido derrotar Donald Trump em 2020.
O ponto central da discórdia entre a ala moderada e a fação progressista é sobre como providenciar cuidados de saúde aos cidadãos americanos. Os centristas consideram as propostas de Warren e Sanders demasiado “radicais” para o público americano. John Delaney, antigo congressista de Maryland, defendeu que as propostas dos progressistas não passam de “promessas impossíveis”. Outra candidata muito crítica em relação às propostas do progressistas foi Amy Klobuchar, senadora do Minnesota, que pediu medidas com “base na realidade”.
Só que Warren e Sanders não recuaram, defendendo no debate que a sua abordagem mais à esquerda levaria à vitória dos democratas no próximo ano. Tanto Sanders como Warren querem revolucionar o sistema de saúde norte-americano, defendendo a sua gratuitidade e a eliminação da presença dos seguros privados no sistema. Além disso, Sanders defende um ensino superior sem propinas e uma subida nos impostos aos mais ricos.
Apesar dos ataques da ala centrista, os progressistas dominaram o debate. Esperava-se que a noite fosse marcada por confrontos entre Sanders e Warren, que estão em competição direta para ganhar o campo progressista do partido. Mas face à pressão do bloco moderado, foram obrigados a agir em conjunto. Sanders até chegou a elogiar Warren. “Elizabeth”, disse o senador, “tem toda a razão”. Por terem passado o debate a defender-se, falaram quase 18 minutos, enquanto o presidente da Câmara de South Bend, no Indiana, Peter Buttigieg, ficou-se pelos 14 minutos.
Buttigieg está entre os candidatos favoritos nas sondagens. O presidente da Câmara posiciona–se entre os progressistas e a ala mais moderada, e resumiu bem o dilema democrata: “Se adotarmos uma agenda de extrema-esquerda, [os republicanos] vão-nos apelidar de socialistas loucos. Se adotarmos uma agenda conservadora, vão dizer que somos um bando de socialistas loucos”.