Do sindicato que apoia motoristas de matérias perigosas para o mundo da política. Ao que o SOL apurou, Pedro Pardal Henriques, advogado do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), foi convidado por Marinho e Pinto para ser o próximo cabeça de lista por Lisboa do Partido Democrata Republicano (PDR) nas próximas eleições legislativas. O SOL questionou Pedro Pardal Henriques sobre este convite, mas o mesmo não confirmou nem desmentiu a possibilidade de vir a ser cabeça de lista pela capital pelo partido fundado pelo advogado Marinho e Pinto.
Já Marinho e Pinto, questionado sobre qual o candidato por Lisboa, disse que ainda nada está fechado: «Ainda estamos a fazer as listas em todo o país. Nada ainda está fixo».
Guerra aberta: sindicatos vs patrões
Depois das declarações de Pedro Pardal Henriques à RTP3, a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) decidiu avançar com um processo contra o advogado do sindicato por este ter «proferido afirmações falsas, gravemente difamatórias e injuriosas». André Matias de Almeida, porta-voz da ANTRAM referiu ainda em comunicado enviado à Lusa que «as falsidades proferidas naquela entrevista são de tal forma graves – e contraditórias com documentos que aquele representante [Pedro Pardal Henriques] não pode desconhecer – que a ANTRAM não poderá deixar de agir na defesa intransigente do bom nome das empresas que representa e que pagam os seus impostos».
Estas promessas, esclareceu Pedro Pardal Henriques ao SOL, são apenas «uma forma de pressionar os trabalhadores», já que «se alguém quiser fazer um processo, não ameaça». Do lado do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas, esta decisão dos patrões não surpreende: «Não acho estranho, porque é assim que a ANTRAM e as empresas tratam os trabalhadores – sempre sob ameaças e sob pressão».
Sobre o eventual processo a decorrer contra o advogado do SNMMP, fica a dúvida, ironiza Pedro Pardal Henriques, quanto às palavras de André Matias de Almeida: «Eu ainda não percebi se o processo diz respeito ao facto de eles não terem cumprido os contratos e enganarem os motoristas», ou se, por outro lado, «o processo diz respeito à fraude fiscal face aos 200 milhões por ano». Seja qual for o motivo, Pedro Pardal Henriques garante que o sindicato tem «provas testemunhais».
Entre processos e processados, este caso não é isolado. Recorde-se que, tal como o jornal i noticiou há duas semanas, também o sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas apresentou uma participação à Ordem dos Advogados contra André Matias de Almeida.
Na altura, Pedro Pardal Henriques explicou que a participação à Ordem foi feita «quer pelas expressões que utiliza contra os colegas nos órgãos de comunicação social – que violam todos os princípios a que os advogados estão sujeitos -, quer pela imparcialidade pelas ligações ao PS que faz com que se aliem para denegrir a imagem dos motoristas». As ligações de André Matias Almeida ao PS já tinham sido noticiadas, aliás, pelo SOL. O porta-voz da ANTRAM, que tem marcado presença em todas as reuniões entre motoristas e patrões, é militante do PS e acumula vários cargos em diversas entidades, sendo alguns de nomeação do Governo.
André Matias de Almeida é, desde maio de 2017, presidente do conselho geral do Fundo Autónomo à Concentração e Consolidação de Empresas (FACCE) e é, desde julho de 2017, presidente do conselho geral do Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas (FIEAE). Estes dois cargos foram-lhe atribuídos através de nomeação do ex-secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos. Além disso, em agosto de 2017, o advogado foi nomeado presidente da Assembleia Geral da StartUp Portugal – a rede nacional de incubadoras de empresas, criada por João Vasconcelos. No espaço de três meses, André Matias de Almeida assume três cargos de estruturas ligadas a João Vasconcelos.
André Matias de Almeida é ainda irmão de Bruno Matias Almeida, adjunto do secretário de Estado da Economia, João Correia Neves, desde 17 de outubro de 2018, de acordo com o despacho de nomeação.
Motoristas recuam, mas ANTRAM não cede
Durante a semana, os dois sindicatos – SNMMP e Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) – mostraram disponibilidade para conversar com o Governo e, a dez dias do início da paralisação a nível nacional, há motivos que apontam para um possível cancelamento da greve. Ao SOL, Pedro Pardal Henriques avançou que a hipótese de cancelar a greve «está sempre em cima da mesa».
Mas também é certo – e a ANTRAM já o garantiu – que enquanto o pré-aviso de greve estiver de pé, não há negociações com os dois sindicatos. As reuniões para discutir o Contrato Coletivo de Trabalho Vertical dos motoristas continuam, mas apenas entre a ANTRAM e a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS).
O sindicato afeto à CGTP garantiu esta semana ao jornal i que as negociações estão a decorrer normalmente, sendo que há discordâncias em alguns pontos. Questionado sobre a possibilidade de a FECTRANS se juntar à greve, José Manuel Oliveira, coordenador nacional do sindicato, não confirmou nem desmentiu: «Cada coisa no seu momento». O sindicato afeto à CGTP mantém uma posição que em pouco se assemelha à dos restantes sindicatos: desde o início das negociações que o silêncio tem sido a característica da FECTRANS.