C omeça a haver mais escolas inclusivas, que trabalham não só os conteúdos académicos, mas também a perspetiva individual, social e emocional. Ao contrário do que acontece na maioria dos estabelecimentos de ensino, ali o currículo do ministério da educação é apenas uma parte do que vão aprender.
Não digo que não haja um esforço enorme e diário de todos os profissionais das escolas em geral para ajudarem os seus alunos. Trabalhar com crianças e jovens não é uma tarefa fácil. Mas as diretrizes do ministério são outras e o esforço acaba por ser sobretudo dirigido para uma preocupação académica e comportamental, ficando para trás o essencial – cada criança em todas as suas vertentes.
Antes de entrarem na escola as crianças são seres únicos, singulares, de uma liberdade invejável, de uma curiosidade e imaginação sem limites. Por alguma razão achou-se que teriam de ser formatadas e é isso que se vê fazer em muitos sítios. Há uma série de objetivos a serem alcançados segundo fórmulas que se considera serem as mais certas. É um crime o que se faz em algumas escolas – das creches às secundárias –, em que os alunos são estragados nas mãos de programas bafientos. Cada criança tem as suas especificidades, os seus gostos e interesses, aquilo para que é mais e menos dotada, e é nessas particularidades que cada um deve ser estimulado. Quantas crianças há que são absolutamente fantásticas, super dotadas para as artes, ou que têm uma sensibilidade fora de série, uma imaginação sem limites ou qualquer outra característica especial que é totalmente desprezada quando entra para a escola e se sente um zero à esquerda por não se conseguir adaptar a um sistema rígido? Quantas poderiam desenvolver qualidades únicas que são esquecidas e esmagadas por um ensino universal ortodoxo em que só importa pôr na cabeça as extensas matérias que vêm do ministério? Já para não falar de todas aquelas que têm necessidades diferentes da maioria, que requerem um acompanhamento mais especializado e que se veem inseridas numa turma dita inclusiva, e que, apesar dos esforços dos professores, acabam por ser desinvestidas porque não há os meios de que necessitam. Que vão para a escola para melhorar, mas em vez disso só pioram, porque se sentem diferentes e esquecidas, porque não conseguem acompanhar os outros.
Uma escola de verdade é uma escola dinâmica, que exige dedicação permanente, que pensa cada aluno de forma individual e no grupo, que privilegia a relação do adulto com a criança e das crianças entre si, que consegue chegar às necessidades de cada um, por mais diferentes que sejam, que incute bons valores, que se esforça diariamente para oferecer o máximo, para potenciar o melhor de cada um. É uma escola em que o cozinheiro, o auxiliar e o professor trabalham todos alinhados e em conjunto, que seguem a mesma filosofia, em que há continuidade de acompanhamento e os professores não mudam a cada ano, é uma escola que possa recorrer a terapeutas complementares sempre que haja necessidade. Ou seja, é uma escola em quase tudo muito diferente da maioria das que encontramos, porque na área da educação ainda temos muito a aprender.