As alterações climáticas aliadas às nossas formas de produção, hábitos alimentares e à maneira como exploramos o solo estão a esgotar o planeta.
Nunca extraímos tanto dos nossos solos nem usámos tantos recursos hídricos como hoje, o que poderá provocar escassez no abastecimento alimentar numa altura em que 10% da população já se encontra subnutrida, segundo um relatório do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC).
O documento foi realizado por mais de uma centena de especialistas de 52 países diferentes e apresentado esta quinta-feira em Genebra, nas Nações Unidas. As conclusões? A Terra está a transformar-se num gigante Saara: está a perder 10 a 100 vezes mais solo do que ao ritmo que este é renovado: cerca de 500 milhões de pessoas já vivem sob pequenos desertos.
O aquecimento global levará a condições climáticas sem precedentes no sul do planeta, potenciando o crescimento da fome, da migração e dos conflitos regionais.
Face a este cenário, diversos autores do documento indicam que as consequências do aquecimento global serão muito mais nefastas nos países mais pobres do sul do globo. Se os fluxos migratórios já causam tantos problemas na Europa e na América do Norte, o cenário que se aproxima não pinta um quadro mesmo nada favorável.
A juntar aos demais, a destruição contínua de florestas, as práticas agrícola intensivas e os gases emitidos pelo gado estão a estimular ainda mais a erosão dos solos.
“É a tempestade perfeita”, qualificou Dave Reay, professor da Universidade de Edimburgo e um dos revisores do documento, ao Guardian, acrescentando que a Terra nunca foi tão pequena: “Pouco solo, a população a aumentar e tudo embrulhado na sufocante manta da emergência climática”.
Ao mesmo tempo, o relatório interliga o desperdício alimentar (25 a 30% dos alimentos produzidos) com o aquecimento global, sendo este responsável por cerca de um décimo de todas as emissões de gases de efeito de estufa geradas pelo homem.
A má qualidade do ar, devido aos elevados indíces de dióxido carbono, estão a reduzir o nível de nutrientes essenciais nos alimentos.
Alguns testes indicam que o trigo está a perder entre 6% a 13% das proteínas e 5% a 8% de zinco, como referiu a co-autora do relatório Cynthia Rosenzweig à Associated Press.
Os nossos hábitos de consumo e as formas de gestão agrícola vão ter que ser revolucionados. Melhores práticas de produção de alimentos, formas de cultivo que não requeiram utilização de arado e uma aplicação de fertilizantes mais direcionada poderá combater o aquecimento global, segundo o documento da IPCC.
De outra forma, uma dieta mais equilibrada, com menos carne, mais vegetais, fruta e sementes tem o potencial de reduzir até 15% das emissões de gases até 2050, aponta Rosenzweig.