Na reação aos massacres, Donald Trump enfatizou o papel dos videojogos «na glorificação da violência na nossa sociedade» e das doenças mentais como os grandes catalisadores dos tiroteios em massa. O que demonstram os estudos?
Videojogos Trump não é o primeiro político a culpabilizar os jogos eletrónicos pela alegada disseminação de uma cultura de violência que desencadeia tiroteios em massa. E não há de ser o último.
Não existe nenhuma análise que consiga comprovar que os jogos de consola ou de computador provoquem estes crimes. Apesar de existirem alguns estudos contraditórios, o consenso no mundo científico é que os jogos não são um factor determinante na violência do mundo real.
«Há uma quantidade enorme de pesquisas que prova não haver ligação entre os videojogos e a violência», garantiu Renne Gittins, diretora da International Game Developers, à revista Time.
Todavia, podem provocar alguns comportamentos mais agressivos, mas que «esses efeitos são quase sempre muito pequenos», como indicou um estudo publicado no mês de junho, por especialistas da Universidade Harvard.
Aliás, os investigadores descobriram que é «8 vezes mais provável» os meios de comunicação mencionarem os jogos eletrónicos «quando o atacante é branco, do que quando se trata de um atacante negro», segundo o New York Times.
Doença mental ou as leis de posse de arma? Quando se dirigiu ao país, Trump disse que é a «doença mental» e «não a arma, que pressiona o gatilho».
«Culpar a doença mental pela violência no nosso país é simplista e impreciso. Vai contra as evidências científicas atualmente disponíveis», assegurou Arthur Evan Jr., da American Psychology Association, ao Guardian. E acrescentou: «Como nós, psicólogos, temos repetidamente afirmado, a vasta maioria das pessoas que sofrem de doença mental não são violentas. […] E não há nenhum tipo de perfil de personalidade que possa prever quem irá recorrer à violência com armas de fogo». Stone recolheu informação desde o início do século XX sobre este tipo de crimes. Dos 350 casos analisados, concluiu que apenas um quinto sofriam de doença mental.
Uma opinião partilhada pela polícia americana. Mary O’Tolle, antiga analista de perfis criminosos do FBI, que disse à CBS News que a sua «experiência, é que estes indivíduos, se houver doença mental, conseguem agir de forma estratégica e fria. Por isso, a doença mental não é o problema».
Em contraste, o debate sobre a posse de armas nos EUA tem sido cada vez mais intenso nos últimos anos, entre o direito constitucional a possuir uma arma e haver legislação adequada para que estes crimes não se propaguem. Quase um terço dos tiroteios em massa ocorreram nos EUA e metade das armas detidas por civis no mundo estão no país. Por cada 100 norte-americanos, existem 120 armas legais, de longe a maior taxa do mundo, de acordo com uma análise feita pela Vox. De seguida está o Iémen, atualmente em guerra civil, com uma taxa de 53 armas por cada 100 pessoas.