A prática já foi confirmada pela empresa e tem sido alvo de controvérsia desde que foi divulgada pelo site Bloomberg: o Facebook pagou a milhares de trabalhadores externos para ouvirem e transcreverem clipes de áudio dos utilizadores, de acordo com fontes "que conhecem o trabalho da empresa" e que avançaram esta prática ao site que se dedica às temáticas de tecnologia e dados do mercado financeiro. Segundo a notícia, veiculada na manhã de terça-feira, "os trabalhadores não sabiam como é que os áudios tinham sido gravados ou obtidos" e "sabiam apenas que estavam a ouvir conversas, muitas das vezes com conteúdo normal, mas desconheciam o motivo pelo qual o faziam".
"Tal como a Apple e a Google, nós fizemos uma pausa nesta revisão humana há uma semana" explicou a empresa de Mark Zuckerberg em comunicado, adiantando que "os utilizadores que foram afetados escolheram a opção, na aplicação do Messenger, de terem as suas conversas áudio transcritas". O motivo que a rede social alega como válido é o facto de terem tentado perceber se "a inteligência artificial do Facebook interpretava as mensagens corretamente". A verdade é que companhias internacionais têm sido alvo de muitas críticas por invadirem a privacidade de quem recorre aos seus serviços: por exemplo, no último mês de abril, a Amazon foi acusada de ter trabalhadores por todo o globo a ouvir os pedidos que os seus clientes faziam à assistente pessoal Siri com o objetivo de "melhorar o software".
Sublinhe-se que o Facebook terminou um acordo de pagamento de 5 mil milhões de dólares, com a US Federal Trade Commission, pois foi acusado de recolher áudio para informar os anunciantes acerca das preferências dos utilizadores e, deste modo, os feeds dos mesmos acabariam por estar personalizados. "Vocês falam de uma teoria da conspiração e ela vai sendo passada de boca em boca. Dizem que nós sabemos aquilo que se passa nos vossos microfones e usamos isso para a publicidade" disse Zuckerberg ao senador Gary Peters, em abril de 2018, rematando "Nós não fazemos isso".
Sabe-se que uma das empresas que colabora com o Facebook na violação da privacidade é a TaskUs Inc., baseada na Califórnia mas com postos em muitos países e que apelida a gigante de "Prisma". A empresa anteriormente referida trabalha igualmente na preparação de eleições e na distribuição de anúncios de cariz político. "O Facebook pediu-nos para parar este trabalho há mais de uma semana" confessou um representante da TaskUs à Bloomberg.
O Facebook nega ter, atualmente, empresas a trabalhar consigo para estes efeitos mas admite que "para processar automaticamente o conteúdo das comunicações e analisar o conteúdo das mesmas" contrata "terceiros" com quem partilha a informação assim como "vendedores e serviços" que "apoiam o negócio".