O barco da Open Arms com 147 migrantes a bordo, resgatados em alto-mar após a embarcação em que navegavam ter naufragado enquanto atravessavam o mar Mediterrâneo, está a ser impedido pela guarda costeira italiana de atracar no porto da ilha siciliana de Lampedusa, depois de o ministro do Interior italiano e líder da extrema-direita, Matteo Salvini, ter entrado com uma nova interdição para proibir a entrada da embarcação no porto.
O Tribunal Administrativo de Lazio, em Roma, autorizou a entrada do Open Arms em águas italianas com base na situação excecional e de emergência que se vive no barco, na quarta-feira, mas Salvini contrariou a decisão através de um decreto governamental na noite de quinta-feira.
A organização humanitária catalã transporta os refugiados há duas semanas sem conseguir atracar num porto. Dado este longo período sem conseguir ir a terra, as condições higiénicas a bordo do Open Arms são péssimas, segundo uma inspeção dos médicos da Cisom, organização humanitária, de acordo com o La Reppublica. Muitos dos refugiados têm infeções e feridas, algumas causadas por armas de fogo, mas há falta de medicamentos a bordo, segundo reporta o jornal italiano.
A insistência de Salvini está a causar ainda mais fraturas no seio do Governo de Itália, que é composto pela Liga de Salvini e o Movimento 5 Estrelas. “Não assino [o decreto] em nome da humanidade”, afirmou a ministra da Defesa, Elisabetta Trenta, do 5 Estrelas, num comunicado, alertando que “o incumprimento da decisão” do tribunal pode “constituir uma violação das leis penais”.
A obsessão do líder de extrema-direita de vetar a entrada de migrantes a qualquer custo também foi condenada pelo ministro dos Transportes, Danilo Toninell, também do 5 Estrelas: “Emitir um novo decreto idêntico ao que foi rejeitado pelo TAR [tribunal administrativo] cinco minutos depois é ridículo”.
Apesar do impasse e da situação de emergência que os migrantes vivem a bordo, o chefe da missão Open Arms em Itália, Ricardo Gatti, mostrou-se confiante numa entrevista à Cadena Ser que o Executivo acabe por permitir que o barco aporte devido aos imperativos legais. “Confiamos que seja a sua obrigação. Informámos as autoridades que temos uma situação de emergência, que as pessoas a bordo estão muito mal. Preparámos todo o tipo de documentação”, afiançou Gatti.
O primeiro-ministro italiano anunciou que os governos de França, Espanha, Alemanha, Roménia, Portugal e Luxemburgo mostraram disponibilidade para acolher os refugiados. O Ministério da Administração Interna português afirmou que "Portugal manifestou a disponibilidade para acolher até 10 pessoas", num comunicado publicado pouco tempo depois do anúncio do chefe de Estado italiano.