Um estudo secreto do Governo britânico divulgado pelo Sunday Times prevê um cenário caótico caso o Reino Unido saia da União Europeia sem um acordo. Escassez de alimentos, problemas no abastecimento de medicamentos, portos congestionados a entrar em colapso, aumento dos custos de assistência social e uma fronteira física com a Irlanda, são alguns dos cenários previstos pelo documento da operação Yellowhammer.
O arquivo, que estava marcado como “sensível”, pinta um quadro dramático que põe o Reino Unido ao nível de país de terceiro mundo caso o país saia da Europa sem acordo, com menos combustível disponível, refinarias de petróleo encerradas, dois mil empregos perdidos, voos para os países da UE adiados e filas de espera longas para os britânicos obterem medicamentos básicos, como a insulina, ou para a vacina contra a gripe.
Por outro lado, a escassez de alimentos frescos, e por consequência, a subida dos seus preços, poderá causar o “pânico”. “A temporada de crescimento do Reino Unido terá chegado ao fim e a cadeia agroalimentar estará sob crescente pressão nesta época devido aos preparativos para o Natal, que é a época mais movimentada para os retalhistas”, alerta o documento.
Tal situação de aperto económico poderá provocar a desordem na sociedade britânica, alerta o estudo: “É provável que ocorram manifestações em todo o Reino Unido e que absorvam quantidades significativas de recursos policiais. Também pode haver um aumento na desordem pública e de tensões no seio das comunidades”.
O gabinete de Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, recusou comentar o documento. Não obstante, o Governo reagiu pela voz do ministro responsável para preparar uma saída não acordada da UE, Michael Gove: “A operação Yellowhammer é o nome dado pelo Governo para preparar o pior dos cenários possíveis, caso aconteça um Brexit sem acordo. É preciso reconhecer que é um documento antigo e, desde que foi publicado, o Governo deu passos significativos para assegurar que estamos preparados para sair no dia 31 de outubro. Com ou sem acordo”.
Tudo isto numa semana em que Johnson irá tentar renegociar o acordo de saída firmado pela ex-primeira-ministra, Theresa May. O primeiro-ministro irá encontrar-se com Angela Merkel esta quarta-feira, em Berlim, e depois com Emmanuel Macron em Paris, antes da cimeira G7, que ocorrerá no país gaulês, em Biarritz, no próximo fim de semana.
Renegociar o acordo será uma tarefa muito dificil para Johnson e como Gove referiu no final de julho, “a saída não acordada é cada vez mais uma possibilidade real”. Por sua vez, Bruxelas não tem mostrado flexibilidade para renegociar um novo pacto desde que Johnson tomou posse.