A Islândia realizou um "funeral", este domingo, por causa do desaparecimento do primeiro glaciar na ilha causado pelo aquecimento global, numa ação organizada por investigadores locais e da Universidade de Rice, nos Estados Unidos, e inaugurou uma placa de bronze em memória ao seu desaparecimento. Teme-se que, se nada for feito, os restantes 400 glaciares presentes na Islândia tenham o mesmo destino.
O Okjokull, o glaciar, que se localizava na parte ocidental da Islândia, tinha 700 anos e foi oficialmente declarado "morto" em 2014, quando já não tinha grossura suficiente para se movimentar. "É o primeiro glaciar a perder o estatuto de glaciar [na Islândia]. Nos próximos 200 anos, espera-se que todos os nossos glaciares sigam o mesmo caminho. Este monumento serve para reconhecer que sabemos o que se está a passar e que sabemos o que é preciso ser feito. Só tu saberás se o fizemos", salienta a placa em memória ao Okjokull, com o título "Uma carta para o futuro", que também pretende chamar a atenção para a urgência climática.
A dedicatória foi escrita pelo laureado escritor islandês, Anri Magnason. "Pensas de forma diferente quando escreves em cobre, do que quando escreves em papel", disse Magnason à BBC, reiterando a diferença na escrita pelo fator da temporalidade: "Começas a pensar que alguém poderá lá ir daqui a 300 anos e lê-la".
"Ao memorizarmos um glaciar desaparecido queremos enfatizar o que está a ser perdido – ou a morrer – em todo o mundo, e também chamar a atenção para o facto de que isso é algo que foi 'realizado' pelos humanos, embora não seja algo que nos deva orgulhar", reiterou Cymene Howe, professora de Antropologia da Universidade Rice, em julho.
O primeiro-ministro islandês Katrin Jakobsdottir, Gudmundur Ingi Gudbrandsson, ministro do Ambiente da Islândia, e a antiga Presidente da Irlanda, Mary Robinson, participaram na cerimónia.
Em 1890, o gelo do glaciar cobria cerca de 16 quilómetros quadrados, mas em 2012 já só media 0,7 quilómetros quadrados, segundo um relatório da Universidade da Islândia, em realizado em 2017.
O desaparecimento dos glaciares por todo o planeta poderá ter efeitos trágicos nas populações. Até 2100, cerca de dois mil milhões de pessoas poderão ser forçadas a deslocar-se das suas casas, devido ao aumento do nível médio das águas, segundo um estudo de 2017. A acrescentar a esse problema, um mundo sem glaciares poderá afetar o abastecimento de água, pois milhões de pessoas dependem destes para a consumir.