"Minorias de estimação" é o título que a jornalista Laurinda Alves atribuiu ao seu artigo de opinião, publicado esta quinta-feira no Observador, acerca do despacho que prevê a aplicação da lei de identidade de género. "No dia em que as casas de banho das escolas forem obrigatoriamente abertas a rapazes e raparigas de todas as idades, as agressões vão escalar e a “pressão dos pares” poderá ser ainda mais perversa" começou por escrever a antiga companheira de Miguel Sousa Tavares. A verdade é que a lei 38/2018 estabelece o "direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e à proteção das características sexuais de cada pessoa".
"No dia 16 de Agosto, em pleno Verão e ainda no auge da crise energética, quando parecia ao Governo que ninguém daria por isso, dois seres humanos viventes que até ao dia de hoje respondem pelos nomes de Rosa Monteiro e João Costa, ambos Secretários de Estado, ambos de géneros agora impronunciáveis uma vez que ambos concordam que não se pode dizer ‘o senhor’ nem ‘a senhora’ a ninguém, não vá esse ninguém sentir-se ofendido (…) assinaram o despacho que oficializa a implementação da Ideologia de Género nas escolas" partilhou a docente catedrática no seu texto, sendo que a lei regulamenta, entre outros pontos, que todos os seres humanos são livres e iguais em dignidade e direitos "sendo proibida qualquer discriminação, direta ou indireta, em função do exercício do direito à identidade de género e expressão de género e do direito à proteção das características sexuais".
Rita Alves, mãe de Leonor, uma criança transexual, não deixou de divulgar o seu testemunho através da página oficial da Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género. "Explico já o que motiva a minha carta e o porquê de ser aberta. Assim, se quiser, pode pô-la já de parte. Chamo-me Rita e sou mãe da Leonor. A Leonor é transexual. Ela existe. É a minha filha, por muito que, para si, ela seja uma 'minoria de estimação', para si um mero trocadilho com 'animal de estimação'" esclareceu a progenitora que confessou: "A Laurinda Alves nem sonha, nem imagina o que vivem estas crianças e as suas famílias. Está tão longe do seu mundo de anjinhos e coisas fofas que, percebo bem, a sua única via é falar do que não sabe e discorrer sobre casas de banho nas escolas".
Ganhando voz por meio do grupo cuja missão é lutar por uma sociedade mais justa rejeitando todas as formas de discriminação, Alves afirmou que a cronista do Observador "não sabe o que é ser mãe e ter um filho que logo aos três anos diz a chorar que não é menino, que não percebe porque insistimos em tratá-lo por menino. Não sabe que os punimos por isso, que os repreendemos e que rejeitamos". Assumindo que não aceita o "croquete solidário" da figura pública, que foi dintiguida com o grau de Comendador da Ordem do Mérito pelo debate e defesa das questões educativas, a mãe de Leonor rematou: "Rezo por si. E sabe porque o faço? Porque a Laurinda, tal como a minha filha, não é para mim uma aberração, mas alguém perturbado e que precisa de apoio".