As chamas que estão a devorar o pulmão do planeta foram notícia no mundo inteiro, especialmente depois de uma enorme nuvem de fumo ter posto São Paulo completamente às escuras às três da tarde – quando a cidade fica a uns distantes três mil quilómetros. A imprensa estrangeira e os líderes mundiais estão a reagir em força para pressionar Bolsonaro, que entretanto assinou um despacho a ordenar os ministros de Estado a tomarem as medidas necessárias para o combate dos incêndios na Amazónia. O Presidente da França, Emmanuel Macron, qualificou o número recorde de fogos na Amazónia como «uma crise internacional» e apelou a que o assunto fosse discutido na cimeira G7 este fim de semana, em Biarritz, sudoeste de França, um evento em que o Brasil não vai participar.
«A nossa casa está a arder. Literalmente. A Amazónia – o pulmão que produz 20% do oxigénio do nosso planeta – está a pegar fogo», escreveu Macron no Twitter na quinta-feira.
As palavras de Macron tiveram a resposta imediata de Bolsonaro, pedindo que o Presidente francês não se intrometesse: «Lamento que o Presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos p/ganhos políticos pessoas. O tom sensacionalista com que se refere à Amazônia (apelando até p/fotos falsas) não contribui em nada para a solução do problema». Bolsonaro, noutro tweet, acusou o Presidente francês de evocar «uma mentalidade colonialista descabida no século XXI». Não existem fotografias disponíveis dos incêndios na floresta. Por isso, à semelhança de muita gente, como Madonna e Cristiano Ronaldo, Macron publicou uma fotografia muito antiga de um incêndio na Amazónia – daí a acusação do líder do Planalto. A imagem é da autoria de Loren McIntyre, que faleceu em 2003, e foi igualmente partilhada por Gisele Bundchen e Leonardo DiCaprio.
No dia seguinte, Macron adensou a pressão sobre o Planalto e anunciou que se iria opôr ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul por considerar que Bolsonaro não está a cumprir com os seus compromissos para conter o desmatamento da Amazónia. «O Presidente só pode concluir que o Presidente Bolsonaro mentiu-lhe na cimeira de Osaka», acusou um porta-voz do Palácio do Eliseu.
A UE e o Mercosul assinaram um acordo histórico em junho, depois de 20 anos de negociações. De acordo com a própria Comissão Europeia, o pacto entre Bruxelas e o Mercosul é o maior de sempre em termos de cortes nas taxas de importação, ou seja, um valor de 4 mil milhões de euros. A parceria prevê, contudo, que o Brasil cumpra o acordo climático de Paris, do qual Bolsonaro ameaçou sair.
Para tal acordo entrar em vigor, o apoio de Paris é essencial e Macron parece disposto a usar esta carta para encostar Bolsonaro à parede. Por seu lado, Dublin juntou-se ao cerco francês. «Não há como a Irlanda votar o acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul se o Brasil não honrar os seus compromissos ambientais», reiterou o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar. Já a Finlândia apelou a Bruxelas para impor um boicote às importações de carne brasileira.
Do outro lado do Atlântico, o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, também teve uma palavra a dizer sobre a mais recente crise na floresta tropical: «Estou extremamente preocupado com os incêndio na floresta da Amazónia. No meio de uma crise climática global, não podemos permitir mais danos a uma fonte importante de oxigénio e biodiversidade».