O trajeto de João Sousa para o título do Millennium Estoril Open em 2018 começou com uma vitória sobre o russo Daniil Medvedev por 7-6 e 7-5.
O jovem de 22 anos que reside em Monte Carlo mostrou uma qualidade de jogo superior, mas uma capacidade competitiva inferior, designadamente do ponto de vista mental.
Medvedev “amuou” em momentos cruciais e lidou mal com o apoio ruidoso do público ao herói local.
Do mesmo problema padeceram em dias seguintes Kyle Edmund, Stefanos Tsitsipas e Frances Tiafoe. O n.º1 português mostrou mais experiência, maior resiliência e melhor habilidade em lidar com a pressão do público.
É este Medvedev que chega ao Open dos Estados Unidos, cujo quadro principal começa na próxima segunda-feira, como o jogador em melhor forma nas últimas semanas.
O russo de 23 anos atingiu três finais consecutivas em torneios do US Open Series: em Washington perdeu com Nick Kyrgios, em Montréal com Rafael Nadal e em Cincinnati conquistou o quinto título da sua carreira – o mais importante de todos, por ser da categoria de Masters 1000.
Em apenas um ano, a evolução de Medvedev foi supersónica e chega a Nova Iorque como o 5.º classificado no ranking mundial.
É o jogador com mais encontros ganhos este ano no ATP Tour (44 face a 41 de Nadal) e o que mais venceu em hardcourts (31 duelos seguido de Roberto Bautista com 20), com dois torneios arrecadados este ano.
Fará isto dele um dos favoritos para o US Open? Não acredito. Medvedev nunca passou dos oitavos de final em torneios do Grand Slam. Este ano, em janeiro, perdeu nessa fase com Djokovic em quatro sets no Open da Austrália.
Mesmo a jogar ao seu melhor nível, incomodou muito o sérvio – bem mais, por exemplo, do que Nadal na final -, mas percebeu-se que fisicamente não aguentou aquela intensidade durante muito tempo.
À melhor de cinco sets o esforço físico e mental faz com que se pratique um ténis completamente diferente do que se vê nos Masters 1000.
Mas Medvedev tem sido um processo de constante progresso e mais tarde ou mais cedo vê-lo-emos discutir também os grandes títulos. Já derrotou o n.º1 mundial Novak Djokovic por duas vezes, venceu agora o seu primeiro Masters 1000, os Majors serão uma questão de tempo e de experiência.
A sua base de treino é a academia de Jean-René Lisnard em Cannes, onde tem, desde 2016, o treinador Gilles Cevera, há dois anos a psicóloga desportiva Francisca Dauzet, o preparador físico Éric Hernandez, o osteopata Paul Lochelongue e o analista de estatísticas Yann Le Meur. Os campeões também se fabricam com minúcia e paciência.