O Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e o Movimento 5 Estrelas desbloquearam o impasse nas negociações e chegaram a acordo para uma coligação de Governo esta quarta-feira, garantindo uma maioria no Parlamento para cumprir os restantes três anos de mandato e evitar que país vá a eleições, abrindo caminho para a extrema-direita chegar ao poder.
“À luz do equilíbrio parlamentar dissemos ao Presidente da República que aceitamos a proposta do M5S para indicar, enquanto partido com maioria relativa, o nome do presidente do Conselho de Ministros [primeiro-ministro]”, explicou Nicola Zingaretti, secretário-geral do PD, no Palácio do Quirinal, Roma, uma das residências oficiais do chefe de Estado italiano, Sergio Mattarella, depois de a audiência entre ambos.
As negociações decorreram durante uma semana, depois de Guiseppe Conte, primeiro-ministro em funções, se ter demitido para evitar uma moção de desconfiança de Matteo Salvini, líder da extrema-direita e seu parceiro de coligação. E era relativamente à presença de Conte como primeiro-ministro que o PD era contra. “Amamos Itália e cremos que vale a pena tentar esta experiência”, justificou ainda Zingaretti, acrescentando que não poderia ser de outra forma para evitar que Matteo Salvini se tornasse primeiro-ministro: “Em tempos complicados como os de hoje, abstrair-se da responsabilidade da coragem de tentar é a única coisa a que não podemos e nem queremos permitir-nos. Pretendemos acabar com o tempo do ódio, do rancor e do medo”.
O líder do M5S, Luigi Di Maio, adiantou aos jornalistas depois da sua audiência com Mattarella, que Salvini o sugeriu como primeiro-ministro para continuar a coligação. Algo que recusou, e ainda atirou uma boca ao líder da extrema-direita: “Não estamos a fugir das nossas responsabilidades ao contrário de outros”.
Em contraste, Salvini recebeu o anúncio com amargura, depois de ter apresentado uma moção de desconfiança contra Conte com o objetivo de provocar eleições. “Os italianos estão desconcertados pelo indecoroso espetáculo e teatro, esse da guerra dos cargos, a que assistimos nos últimos dias – 60 milhões de italianos são reféns de 100 parlamentares que têm medo de perder a sua poltrona”, disparou o líder da Liga. “A única coisa que eles têm em comum é ódio à Liga”, acusando ainda a União Europeia e outros Estados-membros de interferência na política italiana por terem recomendado que Guiseppe Conte continuasse no cargo como líder do Executivo. “Ao presidente do Conselho [primeiro-ministro] encontraram-no em Biarritz [onde esteve para a cimeira G7] e foi indicado por Paris, Berlim e Bruxelas. Em suma, uma repetição do Governo Monti”, atirou Salvini, referindo-se a Mario Monti que foi indicado para primeiro-ministro, em 2011, pelo Presidente da República de então para implementar medidas de austeridade, sem nunca ter sido eleito.
O chefe de Estado italiano tinha dado na terça-feira mais um dia para os partidos chegarem a acordo. Agora está nas mão de Mattarella escolher o que fazer: dissolver o parlamento e convocar eleições ou nomear um Governo do M5S e do PD. Para a última hipótese, deverá dar alguns dias para os para os partidos decidirem a composição do Executivo. O partido de centro-esquerda exige o cargo de vice-primeiro-ministro.