A decisão do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de suspender o Parlamento para tirar margem de manobra à oposição – permitindo-o avançar com o Brexit – está a criar uma onda de indignação em todos os setores da sociedade britânica. Protestos, demissões, petições e ações em tribunal.
No seio do próprio Partido Conservador já houve duas demissões. A líder do partido na Escócia, Ruth Davidson, deixou o cargo esta quinta-feira depois de oito anos na liderança por discordar do rumo tomado em direção a um hard Brexit. Davidson era vista como uma força de bloqueio à independência da Escócia, tendo feito os conservadores crescer como força partidária no país durante os seus oito anos de chefia.
A outra pessoa a deixar o posto, esta quinta-feira, foi o whip conservador – um cargo de Governo que tem como função assegurar a disciplina partidária no Parlamento -, da Câmara dos Lordes, George Young, que foi explícito nas suas razões de saída: “Estou muito infeliz com o timing e duração desta prorrogação, e com a sua motivação”.
Do outro lado da bancada, o líder da maior força de oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, reafirmou a sua intenção de impedir a suspensão da atividade parlamentar e de “atuar politicamente”. “Vamos tentar pará-lo [Johnson] na terça-feira com um processo parlamentar, com o fim de legislar para impedir um Brexit não acordado e para evitar que ele feche o Parlamento neste período tão crucial”, anunciou o líder trabalhista à Sky News.
O movimento formado para apoiar a liderança de Corbyn, o Momentum, fez um aviso ao primeiro-ministro. “A nossa mensagem a Johnson é a seguinte: se roubas a nossa democracia, nós fecharemos as ruas”, desafiou a coordenadora nacional do movimento, Laura Parker. O Momentum, em conjunto com sindicatos, está organizar protestos por todo o Reino Unido, marcados para sábado: em Glasgow, Leeds, Liverpool, Londres, Manchester, Oxford, Sheffield e York.
Esta sexta-feira de manhã fica a saber-se o resultado de uma providência cautelar apresentada por um grupo de 75 membros da Câmara dos Lordes e da Câmara dos Comuns. Os membros parlamentares entraram com este processo no mês passado – quando se percebeu que Johnson poderia suspender o Parlamento – e tinham audiência marcada para o início de setembro, mas o caso foi antecipado com o anúncio de Johnson.
Por outro lado, uma petição cidadã também com a intenção de vetar a prorrogação do Parlamento, chegou a 1,4 milhões de assinaturas – mil por minuto na manhã de quinta-feira.