Um Governo “para” e não “contra”. É este o mantra do primeiro-ministro demissionário italiano, agora mandatado pelo Presidente da República de Itália, Sergio Mattarella, para formar um novo Executivo de coligação entre o Movimento 5 Estrelas (M5S) e o Partido Democrático (PD). Mas não foi sem ceticismo que Conte, que não é membro de qualquer partido, acolheu a incumbência. “Aceitei com reservas”, disse, logo no início do anúncio, no Palácio do Quirinal, Roma, na sequência da sua audiência com Mattarella, esta quinta-feira.
“Temos que trabalhar para transformar este período de crise numa oportunidade para recuperarmos”, defendeu Conte, traçando os objetivos do novo Executivo: “Um Governo para o bem-estar dos cidadãos, para modernizar o país, para tornar a nossa nação ainda mais competitiva no contexto internacional, mas também mais justa e inclusiva”. Foram estas linhas que Conte desenhou para o próximo Governo, que relegará o partido da extrema-direita (Liga) de Matteo Salvini, ministro do Interior em funções, para a oposição.
Roma entrou numa crise política desde que Salvini apresentou uma moção de desconfiança ao Executivo – cujo objetivo era desencadear eleições antecipadas -, levando Conte a demitir-se antes que fosse votada a sua permanência no Governo. Mas o M5S e o PD – que nunca tiveram relações próximas – uniram-se para evitar a todo o custo que o país fosse às urnas, temendo a possibilidade de Salvini se tornar primeiro-ministro, pois está à frente nas sondagens desde as eleições europeias.
“Vamos fazer uma oposição saudável por alguns meses e depois vamos voltar a ganhar”, reagiu, por sua vez o líder da extrema-direita no seguimento do breve discurso do primeiro-ministro demissionário, através de um vídeo publicado no Facebook, apelando também a uma manifestação contra o novo Executivo. “19 de outubro vai ser um grande dia para o orgulho italiano, o orgulho da maioria diligente, que não quer confusão mas quer um Governo que não nasça durante a noite em Paris e Bruxelas”. E criticou na mesma rede social a coligação do M5S e do Partido Democrático dizendo que é uma aliança contranatura que não irá durar muito tempo: “Um Governo baseado apenas nos cargos e no ódio não tem vida”.
Segundo o Il Sole 24, o documento programático preliminar acordado entre o M5S e o Partido Democrático prevê que o novo Executivo peça maior flexibilidade orçamental à Comissão Europeia, de forma a “reforçar a coesão social” com um plano para o investimento público. Ou seja, querem permissão da União Europeia para que o país possa registar maiores défices orçamentais, assumindo que virá uma “nova fase de planeamento económico e social com a nova comissão”, como diz o documento citado pelo Il Sole 24.
No entanto, o jornal económico italiano refere que o texto é vago, estando muito longe do pacto programático de 58 páginas entre a Liga e o M5S: tem apenas duas páginas. Não obstante, uma outra medida que a coligação acordou foi a redução do número de deputados no Parlamento – algo que o PD quer fazer através de uma reforma eleitoral.
Conte irá, nos próximos dias, debruçar-se em negociações com os dois partidos da coligação – e com outros grupos parlamentares – para escolher a composição do Executivo.