A política de “pressão máxima” ao Irão ganhou novos contornos. Os Estados Unidos tentaram subornar o capitão do petroleiro apreendido em Gibraltar – que durante mais de um mês criou uma crise diplomática entre o Reino Unido e o Irão – para que este navegasse para um país que estivesse disposto a deter o navio em nome de Washington, avançou o Financial Times, esta quarta-feira, que teve acesso aos emails da tentativa de suborno.
“Daqui escreve Brian Hook. Trabalho para o o secretário de Estado, Mike Pompeo, e sirvo como representante americano para o Irão”, escreveu Hook num dos muitos emails a que o jornal britânico teve acesso, enviados ao capitão indiano do petroleiro, Akhilesh Kumar, no dia 26 de agosto – quatro dias antes dos EUA imporem sanções ao então Grace 1 – entretanto rebatizado para Adrian Darya 1. “Escrevo com boas notícias”, garantiu o representante.
Que boas notícias eram essas? Ora, a administração de Donald Trump estava disponível a oferecer milhões de dólares a Kumar para que este navegasse para um país que estivesse disponível a deter o navio em nome de Washington.
“Com este dinheiro poderá ter a vida que quiser e estar muito bem quando já tiver a sua idade”, ressalvou Hook, deixando também uma ameaça velada ao capitão: “Se não escolher seguir este caminho, a sua vida tornar-se-á muito mais difícil”.
Para o capitão não confundir o email como um esquema, o representante deixou um contacto telefónico do Departamento de Estado. Mas Kumar não respondeu aos emails, apesar de ter realizado algumas manobras no mar que podiam indicar que o capitão poderia estar a pensar em como reagir às mensagens do representante norte-americano. Contudo, alguns dias depois, Hook enviou-lhe então outro email a avisar que o Tesouro norte-americano tinha acabado de ativar sanções ao Adrian Darya 1, ou seja, pôs o petroleiro na lista negra.
Ao que parece, e que foi confirmado por Hook ao Financial Times, faz mesmo parte da política norte-americana subornar ou intimidar os tripulantes de petroleiros que possam estar dispostos a ajudar Teerão. “Estamos a tentar esgotar o seu stock de mão de obra que transporta petróleo ilícito”, confessou o representante ao jornal britânico. “Dizemos que é como se fosse um condutor alcoolizado a conduzir sem seguro”, realçou ao mesmo jornal.
Hook adiantou ainda que Washington irá intensificar essa política, oferecendo incentivos para os capitães de petroleiros iranianos cooperarem – ou então ameaçar retirar-lhes os vistos de entrada nos EUA, o que os impede de entrar em águas territoriais norte-americanas.
O então Grace 1 esteve apreendido em Gibraltar entre 4 de julho e 15 de agosto por suspeitas de transportar petróleo (2,1 milhões de barris) para a Síria – o que violaria as sanções europeias a Damasco. Passado esse período, as autoridades do território britânico deixaram o petroleiro seguir o seu caminho com as garantias do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohamad Zarif, que prometeu que o Adrian Darya 1 não descarregaria petróleo na Síria.
“Tendo falhado na pirataria, os EUA recorrem à chantagem pura e dura”, reagiu Zarif à história do Financial Times. No dia 2 de setembro o Adrian Darya 1 encontrava-se em águas internacionais, entre o Chipre e o Líbano, segundo o Vessel Finder, site que rastreia navios.