"Não tem o menor fundamento dizer que a Amazónia é património da humanidade, que a Amazónia é para ser aproveitada pela humanidade. Isso é uma barbaridade. Isso não será permitido, não só pelas Forças Armadas brasileiras, como pelo povo brasileiro”. As palavras são do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional brasileiro, em entrevista à Agência Lusa.
"Isso é uma bobagem, sem fundamento, como seria uma bobagem acreditar que, por exemplo, a Sibéria [território russo] ou a Gronelândia [território dinamarquês] são património da humanidade. São bobagens que são ditas por alguns políticos que desconhecem totalmente não só a tradição da Amazónia do Brasil, como os direitos das nações independentes, e que a sua soberania deve ser preservada", acrecentou ainda, apesar de, em 2003, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) ter reconhecido um conjunto de unidades de conservação, localizadas na região da Amazónia brasileira, como Património Natural da Humanidade.
Os incêndios que devastaram a Amazónia provocaram enorme consternação a nível nacional e internacional, com o executivo liderado por Jair Bolsonaro a ser fortemente criticado pela forma como geriu o tema. Augusto Heleno, porém, acredita que a comunidade internacional não tem legitimidade para criticar o Governo brasileiro, referindo mesmo que o interesse estrangeiro pela Amazónia é motivado por interesses económicos. "É um alarmismo desnecessário e interesseiro, não tenho a menor dúvida. Na verdade, não tenho nenhuma dúvida que essa situação criada agora teve um alvo prioritário que foi o Governo do Presidente Jair Bolsonaro, que incomoda a esquerda mundial", disparou, referindo ainda que o acordo entre a União Europeia e a Mercosul (bloco económico fundado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), cuja ratificação está em risco, teve uma “influência capital” nas críticas ao executivo canarinho – alguns países da União Europeia, como França, Irlanda e Luxemburgo, já ameaçaram bloquear o processo de ratificação do acordo de livre comércio se o Brasil não começar a cumprir as suas obrigações climáticas de proteção da Amazónia.
Augusto Heleno considerou ainda "outra bobagem científica" dizer que a Amazónia é o "pulmão do mundo". "Está cientificamente provado que não é. Essas manchetes de jornais 'Amazónia em chamas', isso é uma bobagem também. A maior parte da Amazónia é coberta de floresta tropical e não pega fogo, até por causa da humidade. São essas coisas que são ditas de propósito para gerar angústia no mundo inteiro”, referiu à Agência Lusa, garantindo que a principal preocupação do Governo brasileiro recai nos problemas da população que vive na região amazónica (cerca de 25 milhões de pessoas).
"O Brasil tem-se voltado muito mais para as suas áreas mais povoadas e ali dedicado todo o trabalho de infraestrutura, e deixado um pouco a Amazónia de lado. Nós precisamos de cuidar da Amazónia, fazer com que ela cresça de forma absolutamente sustentável, para que possa fazer com que os seus habitantes sejam os primeiros a usufruir de toda essa riqueza que ela possui", realçou o governante, que operou durante alguns anos na região como militar, revelando que "saúde, educação, saneamento básico e mobilidade são itens básicos que têm chegado muito lentamente à Amazónia, devido aos elevados custos que acarretam, por serem zonas de difícil acesso".