ó há duas formas de se gostar de uma cidade em Malta: quando a vemos ao longe ou quando estamos mergulhados nela. A aproximação quase nunca é fácil – das estradas esburacadas apenas se veem os prédios de pedra calcária, de cores repetidas (que dão a impressão de estarem por acabar) e as bandeiras gigantes que se agitam sobre cada um dos aglomerados. As viagens ali são enganadoras, porque nos aproximam o suficiente para deixar de ter as águas transparentes no horizonte, mas não o suficiente para ver os bancos coloridos, as portas e as marquises alegres. Só há cor ao longe e ao perto, ao contrário do calor, que é sempre o mesmo e que não desaparece nem com o escuro da noite. As praias de muitas cidades não têm horas, dão para banhos durante o dia e para churrascos de família à noite – com as chamas dos pequenos grelhadores a formarem uma espécie de correnteza de tochas à beira mar. E, sim, as noites acabam tarde, mesmo onde não há qualquer diversão noturna. São muitos os idosos nas ruas até depois da meia noite, muitos os jovens que se encontram num bar com amigos junto ao mar para por a conversa em dia e muitos os turistas a caminhar pelas principais marginais.
Em La Valletta os desportos aquáticos não param com o cair do dia, na foto ao lado – tirada em Cospicua, com a capital ao fundo – pode ver-se, por exemplo, um casal a fazer paddle já depois do pôr do sol. E, no mesmo horário, é normal haver competições de polo aquático nas águas da baía de St. Julians, um pouco mais a norte.
A costa de Malta e Gozo está repleta de escadas e acessos às águas calmas do Mediterrâneo, sendo comum ver turistas e locais a mergulhar em enquadramentos diversos, seja com vista para a cidade (como na foto principal), seja num cenário paradisíaco.
A escolha destas fotos não segue totalmente a ordem do percurso feito pelo b,i., que aterrou em La Valletta, partiu rumo a St. Peter’s Pool (sul), continuou por Birżebbuġa – com paragem na vila piscatória de Marsaxlokk (foto em baixo à direita) – acabando no norte da ilha, mas dá para ter a noção da diversidade de um arquipélago que tem apenas 316 km2, menos de metade da dimensão da ilha da Madeira. Com cerca de 400 mil habitantes, Malta é um dos países com maior densidade populacional do mundo, com cerca de 1.300 habitantes por km2.
Mdina e Rabat são duas das cidades que mais chamam a atenção neste pequeno estado da União Europeia. Na primeira, conhecida como cidade do silêncio, só se pode andar a pé, já em Rabat, colada a Mdina, há carros em todas as ruelas, gritos que vêm das casas e, nas horas de menos calor, mulheres que se sentam à porta dos prédios a conversar com as vizinhas.
O encanto de Mdina, capital de Malta até 1570, começa assim que se atravessa a ponte antes da entrada na fortificação – erguida em cima de uma colina de onde se tem uma vista deslumbrante sobre uma parte significativa da ilha. É uma das vistas mais bonitas de miradouro: vários aglomerados vistos de longe. As ruas da também chamada Citta Vecchia foram um dos cenários escolhidos para rodar a série Game of Thrones. E a boa notícia é que, independentemente de ter visto ou não a saga, quem por ali passa entende o porquê da escolha.
Falando em produções cinematográficas, outra das paragens obrigatórias é a Vila do Popeye, a norte da ilha. O filme começou a ser gravado a 23 de janeiro de 1980, tendo a vila de madeira sido montada durante os últimos sete meses do ano anterior. Aparentemente frágil, mas já com provas dadas de muita resistência, a vila é hoje uma das maiores atrações do país, sendo possível visitar o interior de muitas das casas e estabelecimentos que serviram de cenário às aventuras protagonizadas pelo marinheiro Popeye (Robin Williams), Olívia Palito (Shelley Duvall) e Brutus (Paul L. Smith). Como fica junto ao mar, os visitantes têm ainda a oportunidade de apanhar um pouco de sol e tomar uns banhos. E, atrás da foto perfeita, há sempre quem acabe por correr alguns riscos, como se pode ver na principal foto destas páginas.
Mas Malta não é só Malta, é também Gozo e Comino. Nesta última ilha, com apenas 3 km2 e três habitantes permanentes, não é possível levar carro nem moto e a principal atração fica mesmo à saída do local onde os barcos vindos de Malta deixam os turistas – a Lagoa Azul, conhecida pela sua água transparente de cor azul e pela biodiversidade marinha, comum ao arquipélago e que atrai todos os anos milhares de mergulhadores. Depois de Comino vem Gozo, uma ilha maior, com 67 km2, onde vivem mais de 37 mil habitantes e que tem como capital a cidade de Victoria. É nesta ilha que se podem ver as belíssimas salinas de Marsalforn (ver foto em baixo à esquerda), desfrutar da praia Ramla Bay – uma das poucas de areia – ou, melhor ainda, passar um dia inteiro nas águas da Blue Hole – ainda que infelizmente hoje já não tenha a Janela Azul para embelezar ainda mais a paisagem. Mas é impossível ir a Malta e passar ao lado da sua grandiosa história, dos monumentos e das igrejas (existe uma por cada dia do ano). Um dos pontos a não perder em Gozo são os templos megalíticos de Ġgantija (Torre dos Gigantes), com 5500 anos (anteriores às pirâmides do Egito). Segundo a lenda, estes templos – que se acredita terem sido local de culto da fertilidade e que foram classificados como património Mundial da UNESCO –, terão sido construídos por gigantes.