A vitória de Rafa Nadal no Open dos Estados Unidos relançou o debate sobre o melhor jogador de todos os tempos.
Nas últimas duas décadas tem sido moda avaliar o GOAT (Greatest Of All Time) pelo número de títulos do Grand Slam.
Nem sempre foi assim. As vitórias na Taça Davis já foram quase tão importantes, os triunfos no Masters (atuais ATP Finals) tinham um peso enorme, as finais do WTC em Dallas eram ainda mais relevantes e o n.º 1 mundial valia mais do que o Open da Austrália ou Roland Garros.
No contexto atual os 20 títulos de Roger Federer continuam a reinar. O próprio tio e ex-treinador de Rafa, Toni Nadal, reconhece que ‘King Roger’ é o maior. Mas Nadal vem agora logo atrás com 19 e Djokovic está à espreita com 16.
O mais interessante é que o próprio Federer, apesar de adorar ser apresentado como o GOAT, prefere relativizar. Chama Rod Laver ‘The Great Man’, em alusão ao seu recorde mundial de ser o único a completar o Grand Slam em duas ocasiões, vencendo os quatro Majors numa mesma época em 1962 e 1969.
Neste US Open Federer teve uma tirada quase professoral, quando recordou que há determinados recordes que eram irrelevantes noutras eras.
Um desses foi o de títulos do Grand Slam. Nas primeiras décadas da história do ténis moderno, era de barco, em longas viagens, que os jogadores se deslocavam à Austrália, Estados Unidos e Europa. Por isso, raros jogavam todos os Majors.
Bill Tilden jogou o US Open entre 1916 e 1930, nunca disputou o Open da Austrália e faltou duas vezes a Wimbledon e três a Roland Garros mas venceu 10 Majors.
Rod Laver ganhou 11 Majors mas não pode jogá-los entre 1963 e 1968 por ser profissional. Quantos teria ganho? Afinal venceu seis entre 1960 e 1962 e cinco em 1968 e 1969.
Na década de 70 Jimmy Connors dizia que o objetivo era ser n.º 1 e ganhar o máximo de torneios. Pois bem, tem 109 títulos, um recorde absoluto (Federer vai com 102) e foi n.º 1 no final de cinco épocas (só superado pelas seis de Pete Sampras).
Connors só jogou dois Opens da Austrália (um título e uma final) e falhou cinco Roland Garros por ter preferido o World Team Tennis (um campeonato intercidades americanas). Mas ‘Jimbo’ ainda venceu oito Majors. Tal como Bjorn Borg que colecionou 11 e só jogou uma vez na Austrália, desistindo da sua carreira de Majors aos 25 anos.
Não me custa que Federer, Nadal e Djokovic sejam os melhores de sempre, mas também acho que noutras eras houve outros igualmente enormes, que não puderam ou não quiseram lutar pelos Majors com a ferocidade dos atuais campeões.