O ataque reivindicado pelos rebeldes houthis do Iémen, no sábado, às instalações petrolíferas da empresa estatal saudita, Aramco, nos campos de Abqaiq e Khurais, tem feito aumentar a tensão no Médio Oriente. Riade e Washington responsabilizam Teerão – que é aliado dos houthis – pelo ataque, enquanto os iranianos negam veementemente o seu envolvimento. Esta semana voltou a ver-se uma nova troca de acusações entre os Estados Unidos e o Irão.
«Um ato de guerra» do Irão, apontou o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, na quarta-feira, quando chegou à Arábia Saudita, antes do seu encontro com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin-Salman. «Estamos a trabalhar para criar uma coligação para os deter», avançou Pompeo.
Pouco tempo antes da chegada do secretário de Estado, Riade apresentou alegadas provas do envolvimento iraniano, mostrando os destroços dos drones e dos mísseis. Em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério da Defesa, Turki al-Malik, defendeu que os drones tinham sido lançados a norte das instalações, ou seja, do Iraque ou do Irão – e não do Iémen, a sul.
«Inquestionavelmente patrocinado pelo Irão», disse com confiança Al-Malki, especificando que o ataque foi realizado por 18 drones, lançando sete mísseis ‘Iranian Delta Wing’. O porta-voz do ministério argumentou que os houthis não tinham capacidade tecnológica para um ataque com a «precisão e impacto» que os mísseis tiveram nas instalações – reduzindo temporariamente a produção petrolífera saudita em 5,7 milhões de barris por dia – e que «todas as evidências recolhidas no terreno» provavam «que foi utilizado armamento do Irão no ataque». Porém, Al-Malki adiantou que Riade ainda trabalhava para «saber exatamente o ponto de lançamento» dos drones.
Reagindo às acusações dos países aliados, Mohammad Javad Zarif, ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, garantiu à CNN: «Não queremos guerra, não nos queremos envolver numa confrontação militar». «Mas não hesitaremos em defender o nosso território», acrescentou, certificando que as armas não eram iranianas: «Estão a inventar» . Questionado pelo entrevistador sobre quais as consequências de um ataque saudita e norte-americano ao Irão, Zarif respondeu perentoriamente: «Uma guerra em todas as frentes».
Washington é um aliado histórico de Riade e tem feito tudo para manter a sua influência no Médio Oriente, garantindo a segurança dos seus aliados na região, entre outras coisas. Mas um ataque com drones que custam sensivelmente 15 mil dólares, contra um dos maiores exércitos do mundo – pondo em xeque a economia saudita -, muda o paradigma.
«Os eventos no Golfo Pérsico demonstram que os líderes do Irão podem escalar sem impunidade», defendeu Steven Cook, num artigo análise na revista americana Foreign Policy. «Os iranianos – e outros adversários dos Estados Unidos na região – têm todos os motivos para acreditar que Trump fala alto e carrega um bastão inexistente», acrescentou o analista.
E parece que do lado iraniano pensa-se mesmo um pouco assim. «Eles [Estados Unidos e Arábia Saudita] perceberam que brincar com o fogo é altamente perigoso e se agirem [militarmente] contra o Irão, a qualquer altura, sabem que não haverá amanhã para eles na região», realçou Hossein Dehghan, conselheiro do Supremo Líder Aiatola Ali Khamenei, à agência iraniana Fars.