«Em todo o mundo, os Governos seguem sempre a opinião pública, mais cedo ou mais tarde», assegurou esta semana o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em entrevista à CBS e ao The Nation. Guterres propôs-se a «dizer a verdade às pessoas e ter confiança que o sistema político – especialmente os sistemas políticos democráticos – irão cumprir». Contudo, ao mesmo tempo que 8 em cada 10 norte-americanos acreditam que a atividade humana está a acelerar as alterações climáticas, segundo uma sondagem do Washington Post – e mais de metade querem que o problema seja enfrentado agora, segundo uma sondagem da CBS –, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não está convencido.
«Os EUA têm uma riqueza tremenda», disse Trump no mês passado. «Não vou perdê-la em sonhos ou moinhos de vento», garantiu, questionado sobre as muitas medidas tomadas pela sua administração para diminuir regulações ambientais – tendo até anunciado que irá sair do acordo de Paris. Nem o consenso da comunidade científica, nem a aproximação das eleições presidenciais de 2020 – onde praticamente todas as sondagens mostram Trump atrás de qualquer candidato democrata – parece aproximar o Presidente da posição maioria dos norte-americanos.
Entretanto, os laços entre a administração Trump e think-thanks negacionistas das alterações climáticas parecem ter-se estreitado. Aliás, foi recentemente noticiado que um membro do Conselho de Segurança Nacional, William Happer, pediu aconselhamento ao Instituto Heartland – que pretende impedir o «encerramento de centrais energéticas a carvão em perfeitas condições», lê-se no seu site. «É o equivalente a formular políticas anti-terroristas consultando grupos que negam que o terrorismo existe», explicou à Associated Press Matthew Nisbe, professor de políticas públicas da Universidade do Nordeste.
Contudo, estes negacionistas terão sido fundamentais em formular a política que a administração de Trump chama de «domínio energético» – um eufemismo para priorizar combustíveis fósseis, independentemente dos custos ambientais. Outra coisa que Trump e os think-thanks negacionistas têm em comum são os seus financiadores – em particular no lobby da indústria petrolífera, do gás e do carvão. Estes grupos de interesses terão gasto cerca de 56 milhões de dólares (mais de 50 milhões de euros) na campanha de 2016, segundo o Center for Responsive Politics.
Os mais conhecidos doadores são a Koch Industries, da poderosa família Koch – que entre 2015 e 2016 contribuiu quase 10 milhões de dólares para grupos conservadores e campanhas republicanas. No entanto, seria erróneo afirmar que a influência de doadores da indústria dos combustíveis fósseis se limita apenas a republicanos e conservadores – dado que praticamente todos os candidatos democratas às próximas presidenciais aceitaram no passado avultadas somas deste lobby.
No entanto, a crescente mobilização de ativistas contra as alterações climáticos parecem estar a surtir algum efeito no sistema político norte-americano. Não só a maioria dos candidatos democratas assinou um compromisso de não aceitar doações vindas da indústria dos combustíveis fósseis, como as próprias bases do partido de Trump parecem cada vez mais afastadas do seu Presidente – cerca de 60% concordam com a comunidade científica quanto às alterações climáticas.