Estamos sempre a ouvir que o aquecimento global não pode passar a barreira dos 1,5 ºC. Mas porquê? Se chegar aos 2 ºC ou aos 3 ºC, o cenário será muito pior? Um estudo publicado, na semana passada, na revista Science mostra o que está em causa.
O estudo, realizado por especialistas de várias universidades, mostra as diferentes consequências de um aquecimento global de 2 ºC, nomeadamente o risco de cheias fluviais e de aumento – quer na quantidade, quer na intensidade – de ciclones.
O documento alerta ainda para que o risco de inundações nas zonas costeiras, de “eventos climáticos extremos”, de “escassez de água” e de “disseminação de espécies invasoras” será menor se o aumento da temperatura global não ultrapassar os 1,5 ºC.
Outra das questões abordadas neste estudo é o impacto desta pequena (grande) diferença na biosfera. “O número de espécies que perdem pelo menos metade das suas áreas geográficas determinadas pelo clima é consideravelmente menor se o aquecimento global se mantiver nos 1,5 ºC. Além disso, a perda de espécies e os riscos de extinção são bastante menores com 1,5 ºC do que com 2 ºC”, descreve o relatório.
Os especialistas fazem ainda uma análise dos efeitos desta diferença na vida dos seres humanos. Além de questões como a subida do nível do mar, a falta de espaço para habitar e o calor insuportável com o qual terá de lidar, o homem vai ter de enfrentar um mal que já existe, mas que poderá tornar-se global: a fome. No documento, é possível ler que “limitar o aquecimento aos 1,5 ºC irá resultar numa menor redução nas produções de milho, arroz, trigo e outros cereais”. O crescimento do aumento da temperatura para os 2 ºC também irá levar à “perda de 7 a 10% dos terrenos de pastagem a nível global”, um cenário mais negro do que o projetado caso seja possível conter o aquecimento.
O estudo aponta ainda para as diferenças que podem ocorrer em termos de saúde da população: “Limitar o aquecimento global aos 1,5 ºC fará com que existam menos 420 milhões de pessoas expostas frequentemente a ondas de calor “extremas” e menos 65 milhões expostas a ondas de calor “excecionais”. Questões como a subnutrição e a exposição a doenças contagiosas também podem ser influenciadas por esta diferença.
A investigação foca ainda os efeitos que o aquecimento acima do esperado pode ter no turismo, com alterações no clima a poderem colocar em causa a “atratividade e/ou segurança de certos destinos”.
“Vários fatores mostram-nos que o mundo enfrenta vários riscos com a temperatura a subir 1,5 ºC. Estes são ainda maiores com um crescimento para os 2 ºC. Vivemos num momento crítico na história do homem em que as ações tomadas hoje irão certamente minimizar os impactos perigosos em centenas de milhões de pessoas”, concluem os especialistas.