Cimeira. Greta acusa políticos de só pensarem “no crescimento económico eterno”

Greta Thunberg, a ativista ambiental de 16 anos, dirigiu palavras duras aos políticos mundiais. Trump e Bolsonaro não estiveram presentes.

Os líderes mundiais reuniram-se esta segunda-feira em Nova Iorque para a Cimeira para a Ação Climática das Nações Unidas. Na véspera do encontro entre os representantes de 63 países, um relatório da Organização Mundial da Meteorologia (OMM) mostrou que os cinco anos entre 2014 e 2019 foram os mais quentes que o planeta alguma vez testemunhou.

“Por todo o mundo, a natureza está a ripostar furiosamente”, sublinhou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, no discurso de abertura da Cimeira da Ação Climática. “Não se negoceia com a natureza”, apontou o português, entre aplausos, acrescentando: “Há um custo para tudo, mas o maior custo é não fazer nada. O maior custo é subsidiar a indústria fóssil”.

Por sua vez, Greta Thunberg, a ativista ambiental de 16 anos, com a voz trémula, prestes a chorar, teve das palavras mais duras para os políticos mundiais. “Isto está tudo mal. Eu não devia estar aqui. Eu devia estar na escola no outro lado do oceano. Mas vocês vêm todos ter connosco, jovens, para ter esperança. Como se atrevem? Roubaram os meus sonhos e a minha infância com as vossas palavras vazias. E mesmo assim, eu sou uma das sortudas”, atirou a jovem.

“Estamos no início de uma extinção em massa e só conseguem falar sobre dinheiro e crescimento económico eterno. Como se atrevem!”, criticou, dizendo que por mais de três décadas a “ciência tem sido clara como água” em relação às alterações climáticas.

A cimeira foi marcada pelas ausências de Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil. E também de países como a Arábia Saudita e a Austrália. O chefe da Casa Branca esteve presente na ONU, mas para participar num evento de liberdade religiosa que tenta reverter os direitos ao aborto em todo o mundo.

 

Relatório da OMM “Ondas de calor generalizadas e duradouras, incêndios recorde e outros eventos devastadores, como os ciclones tropicais, inundações e secas, tiveram grandes impactos no meio ambiente e no desenvolvimento socioeconómico”, lê-se no relatório da OMM.

O documento demonstra que a temperatura no planeta subiu 1,10C desde 1850, mas aponta que só entre 2011 e 2015 houve um aumento de 0,20C. Ou seja, esta subida é o resultado das crescentes emissões de carbono, com a quantidade de gás a entrar na atmosfera – entre 2015 e 2019 – a crescer 20%, em comparação com os cinco anos anteriores.

“A última vez que a atmosfera da Terra teve 400 partes por milhão de CO2, foi à volta de três a cinco milhões de anos antes”, diz a OMM, notando que a concentração de CO2 em 2018 é de 407,8 partes por milhão. Nessa altura, defende a organização, as temperaturas globais à superfície estavam 2 a 30C mais quentes do que hoje. “As calotes polares da Gronelândia e da Antártida Ocidental derreteram, partes do gelo da Antártida Oriental recuaram, todos causando um aumento global de 10 a 20 milímetros no nível médio [das águas do mar], em comparação com hoje”, diz o relatório da OMM. 

Desde 1993, o nível médio das águas do mar sobe à razão de 3,2 milímetros por ano. Mas desde maio de 2014 a 2019 esse valor aumentou para cinco milímetros por ano.