São verdadeiros tempos de namoro aqueles em que os bebés ainda são pequenos. Tudo começa quando o trazemos na barriga e o transportamos com orgulho. Depois o parto, conhecer aquele ser pequenino, perfeito e maravilhoso, aconchegá-lo nos braços, enchê-lo de carinho, alimentá-lo e numa simbiose perfeita sentir que nos bastamos.
O bebé vai crescendo: assistimos embevecidos ao primeiro sorriso, entusiasmados às primeiras gargalhadas, orgulhosos aos primeiros passos e às primeiras palavras. Está a crescer e é tudo encantador e fascinante.
Precisam de nós para serem felizes e nós deles. Habituamo-nos a que assim seja. Até que, embora seja um processo gradual, parece que de um dia para o outro tudo muda. Quando damos por isso deixámos de ser o seu centro do mundo para ocuparmos uma parte. Já não somos essenciais e alguém parece ter-se apoderado do nosso lugar. Os amigos passam a ter toda a atenção, juntamente com uma série de passatempos que lhes dão prazer. São os amigos que ditam a moda, o gosto, o que dizem, o que fazem, são eles que os entusiasmam. Nós já riscamos muito pouco e às vezes chegamos a sentir-nos seres utilitários: leva-me aqui, leva-me ali, podes dar-me isto, podes fazer aquilo? Somos não o fim, mas a ponte para o atingir. É um papel ingrato. De repente recordamos solitariamente aquela simbiose perfeita, a cumplicidade.
Não é por acaso que é tão comum pais com filhos mais velhos se derreterem a olhar para bebés ou crianças pequenas e suspirarem: ‘Que saudades de quando o meu era assim’.
É duro mudar para o outro lado. O coração fica silenciosamente pequeno. É um embate com uma nova fase, mas rapidamente percebemos que é esse o caminho. Preocupante seria quererem só o nosso colo para sempre, seguirem os nossos hábitos em vez dos seus próprios, dos da sua idade, divertirem-se mais connosco do que com os amigos. Na verdade, começarmos a ser postos de parte, por volta pré-adolescência, é um indicador de que está tudo bem, de que fizemos um bom trabalho, de que se sentem seguros para começarem um caminho mais autónomo.
Nós teremos sempre o nosso papel, que não é pequeno e que continua a ser fulcral, continuamos a existir neles, a ser amados. Mas de maneira diferente. Eles continuam a esperar que estejamos na retaguarda para se sentirem confiantes, que podem seguir para longe que nós estaremos para quando regressarem, que já nem sempre lhes poderemos amparar as quedas, mas que continuamos lá para os ajudar a levantar, talvez já não com um beijinho no dói-dói, mas com palavras, com um abraço, com carinho. E vamos seguindo, lado a lado, com uma distância saudável que deixa ambos confortáveis. Não são só eles que crescem, nós também vamos crescendo enquanto pais, também vamos aprendendo a lidar com eles da melhor forma em cada altura.
Ainda guardo as folhinhas e sementinhas que o meu filho mais velho me trazia todos os dias nos bolsos do bibe quando entrou para a escola. Eram a prova viva de que me levava com ele, que me queria presentear no reencontro. Hoje os presentes são outros, acima de tudo serão as suas conquistas, a sua felicidade. E a cumplicidade e o lugar especial que sei que ocuparemos sempre um no outro.